domingo, agosto 22, 2021

eAçor

Que excelente dia!!

Já lá vai o tempo em que o blog era alimentado todos os meses. Apesar de alguma falta de tempo, não o quero deixar parado no tempo, pois é também para mim um "livro" de recordações. Curiosamente, a ultima volta publicada, foi no ano passado e teve como mote a Serra do Açor que eu tanto gosto. Inevitavelmente, repito fotografias. Tais paisagens sempre me deslumbraram e registo tudo, como se fosse a primeira vez que ali estivesse a passar. 

Mas esta volta foi especial. É certo que a maioria das vezes que para aqui venho até é sozinho. Nem sei bem se é por opção.... mas é assim que se proporciona. Mas esta foi especial! Pedalei com os meus amigos de infância Tó-Zé e Luis Alfredo. Ao pedalar com eles, remeto-me para a infância que passei na minha bonita Benfeita. Inevitavelmente, o meu pai vem sempre ao meu pensamento e esteve presente em todos os quilómetros. Não só porque estava a pedalar com os meus amigos, mas também porque estas serras, estes caminhos também eram bem conhecidos do meu pai, do tempo em que trabalhava nas Telecomunicações de Portugal, mais tarde Telecom Portugal, Portugal Telecom, PT, Altice...

Todas as terrinhas, por onde de vez em quando passava de bicicleta na Serra do Açor, davam tema de conversa, pois também ele, tinha historias por lá. Historias dos caminhos que iam desde o Land Rover serie III, à Renault 4, passando pelos UMM. Mas a "4L" sempre foi o carro preferido, segundo ele, o mais confortável para andar no meio da serra. Essas histórias iam desde o primeiro telefone instalado nesta ou naquela aldeia, normalmente numa mercearia ou um qualquer comércio, que ficaria de "Posto Publico". No tempo do meu pai, o alcatrão por aqui era pouco e algumas destas aldeias nem estrada tinham, o acesso era mesmo a pé. São histórias que ficam...

Com estes amigos, o ponto de encontro podia ter sido na Benfeita, no campo de futebol, para mais uma futebolada. Esmurrar joelhos, estragar as sapatilhas ou mesmo partir a cabeça. Também podia ser arranhar as pernas nas silvas ou ficar com comichão das urtigas, já que a bola por vezes saltava fora do campo e... o nosso campo estava construído mesmo por cima da ribeira. Mas, não! Desta vez, levámos capacetes e o ponto de encontro foi na bonita aldeia do Sobral de São Miguel. A bicicleta, não levei! Essa levou o Tó-Zé, pois faz parte do seu novo projeto ligado às bicicletas "Pedal to Enjoy", que promove desafiantes passeios de BTT na Serra do Açor em bicicletas elétricas. 


No Sobral de São Miguel, juntámo-nos 7 eBTTistas, eu, o To-Zé, o Luís Alfredo, o Guilherme (o "gaiato" mais velho do Luís), o Sancho, o Paulo, o veterano e rijo sr Porfirio, e um duro na sua bicicleta "analógica", o Pedro Faria. 




Iniciámos o nosso passeio à beira da ribeira, "vale acima" até chegarmos à estrada de acesso ao Sobral pelas Pedras Lavradas. Infelizmente, o incêndio do ano passado, fez muitos estragos nestas encostas à volta do Sobral. Na mancha verde envergonhada, de mato e de giestas erguem-se os pinhos negros queimados.




Chegados à estrada, andámos um pouco pelo asfalto até virar costas às Pedras Lavradas. Para subir à crista do Gondufo e São Pedro do Açor, não foi necessário subir aquela valente picada de bicicleta às costas, uma vez que agora existe um novo estradão que rasga a meia encosta e nos leva para o estradão já existente que vem da Teixeira e das Balocas. Em tempos idos, quando passava aqui de bicicleta não havia qualquer caminho para se subir à crista. Deste lado não se subia à crista, tendo para isso que descer e apanhar um dos caminhos florestais depois da aldeia das Balocas ou do Gondufo.











Aos poucos chegámos ao estradão da crista que "separa" a Teixeira de Cima das Balocas. Automaticamente avista-se a capela da Srª das Necessidades, conhecido Monte Colcurinho. Não me canso de contemplar aquela encosta, a silhueta daquele monte.



Seguimos. Passámos à beira do Gondufo. Bem, com bicicletas assim e com experiência zero, como era o meu caso, a tendência é poupar bateria. Pois com tanta subida que o percurso tinha, nada como poupar alguma coisa para que no final não tenha o "azar" de puxar por 25 Kgs nuns pneus 2.5 ou 2.8 que são um delírio, quando nestas paragens se deeeeeesce!!!






Um pormenor que gosto sempre de referir, no cruzamento do marco geodésico Gondufo: aqui juntam-se as fronteiras de três distritos da zona centro: Castelo Branco, Guarda e Coimbra.



E porque é que o Tó-Zé, nos trouxe por aqui? Nada mais nada menos, para trilhar o caminho que liga a crista Gondufo/São Pedro do Açor à crista do picoto da Cebola. A linha de água que encontramos pelo meio é nada mais nada menos que o Rio Ceira. O berço do Ceira é aqui!










Deixámos o Ceira para trás, pelo menos por agora. Apanhámos no final do trilho o estradão que vem do Sobral de São Miguel e que segue para o picoto da Cebola. Também este estradão é recente, "meia dúzia" de anos. Cheguei a andar por aqui e não ter por onde sair. 





As vistas, são o deslumbre de sempre. Se agora é bonito, em Maio as cores são ainda mais vivas e variadas. O amarelo da flor da giesta, o lilás da urze dão a estas encostas tonalidades diferentes que adoçam o olhar. 











Desta vez, o picoto da Cebola estava concorrido. Nós eramos 8, mas lá em cima estava malta (de carro) a apreciar a paisagem. Aqui é sem duvida o melhor local da zona centro onde temos as melhores vistas a 360º.

Seguiu-se a vertiginosa e perigosa descida para o cruzamento da Covanca.





Da Covanca descemos novamente ao Rio Ceira, passámos a ponte e subimos à Malhada Chã, onde nos esperava o João, já com a mesa montada e bem composta. O To-Zé não brinca em serviço.






Sombrinha boa, mesa posta e agua fresquinha para quem quis dar um mergulho. Estávamos novamente à beira do Rio Ceira.
Que categoria!
Outro bom momento, foi o que nos proporcionou o Sr. Morgado. Já conhecido desta malta de uma passagem por aqui no ano passado, deu conta de nós e veio de propósito da aldeia até aqui, para nos trazer uma "pomada" de mel, que ele próprio tinha feito.











Nunca aqui tinha ficado tanto tempo na Malhada Chã, numa volta de bicicleta. A razão era simples. Cada vez que por aqui passo, fica-me mais ou menos a meio da volta, isto é, fica-me mais ou menos a meio do dia, logo apanho sempre aqui muito calor e normalmente pico o ponto na aldeia e subo logo para ver se apanho algum ar.

Depois do café, passámos ao desafio seguinte, o São Pedro do Açor. Felizmente apanhámos algum ventinho para refrescar desde cedo. Estas encostas do Açor, são lindas, mas muito despidas. Quando o Sol aperta, é bom que não tenhamos facilitado na agua para beber.







Estávamos novamente na crista Gondufo/São Pedro do Açor. também aqui as vistas são fabulosas. Já se consegue espreitar o Piodão e a capela da Srª das Necessidades está ali mais chegada a nós.




As eólicas são uma constante por aqui. Se por um lado adulteram a paisagem, marcando uma evidência forte da mão do Homem, por outro lado ajudam a dar uma noção, uma referência quanto à grandeza da paisagem que temos à nossa frente. A foto acima, com a Serra da Estrela e a Torre como pano de fundo,  é um bom exemplo disso, onde os gigantes aerogeradores, parecem pequenos postes.




Depois do São Pedro do Açor, apanhamos um trilho que eu desconhecia. Sabem sempre bem estas partes para quebrar a homogeneidade do estradão. Ainda por cima, estávamos aqui com as bicicletas certas para isto. Suspensão total, cursos longos e bons pneus. 





Mudando de encosta rumo à Srª das Necessidades e começávamos a avistar outras aldeias. O registo acima é o Soito da Ruiva.



No alto do Piodão, voltámos a encontrar o João. Seguimos pela crista e aos poucos fomos aproximando-nos do Monte Colcurinho. Terminava ali, o desafio, não a volta.









O ultimo quilometro desta subida é desafiante. Não se nota muito com uma BTT e muito menos com uma eBike, mas com uma bicicleta de estrada e um pedaleiro de 39 dentes, faz ranger os joelhos :P 







O desafio maior foi sem duvida para o Pedro, mas para ele isto são "favas contadas".



Chegámos ao cimo do monte. Foi o meu pai que me trouxe aqui pela primeira vez. De carro, há uns bons 35 anos.
É um misto de emoções andar por aqui. Aquelas corridinhas que se fizeram por aqui "sem saber ler e escrever", também as recordo com entusiamos e alguma saudade. 













Descemos ao Piodão e de seguida Foz d'Égua pelo caminho de xisto. Estava a terminar o dia, pelo menos a parte de pedalar. Alguns foram novamente à água e ninguém foi para casa de barriga vazia, pois a mesa estava novamente posta.







Um grande dia! Muito bem passado! Obrigado a todos estes amigos! 




2 comentários:

João disse...

Olá Tiago,
é sempre um grande prazer ler as tuas "reportagens" das serranias de que ambos gostamos tanto. Ainda não foi desta que por lá nos encontrámos mas foi quase. Se a volta que relatas foi a 22 de Agosto eu fiz parte do mesmo percurso no dia seguinte, a 23.
Saí da barragem da sta. Luzia, casa do guarda, cimo de Fajão, estradão para apanhar a estrada para a Covanca. Da Covanca para a Malhada Chã e daí o caminho serra acima até ao São Pedro do Açor. Desta vez não estava lá o Sr, Armindo no posto de vigia (vou lá todos os anos cumprimentá-lo). Do São Pedro apanhei a cumeada até ao Gondufo. Depois voltei atrás para apanhar a tal ligação (!!!) que passa na nascente do Ceira e dá acesso ao estradão que vem de Sobral de São Miguel e vai para o Picoto da Cebola. No inicio do caminho, fiz lá um monte de pedras a marcar o início. Fiz esse caminho quase todo a pé. Não só porque é tecnicamente difícil mas , também, porque tinha receio de rasgar um pneu nas pedras afiadas do caminho.
Foi uma os dias mais quentes do ano, o termómetro marcava 39 graus e estava ver que não me safava na subida pelos estradão das eólicas até ao Cebola (é ainda mas difícil do que do lado da Covanca). A água que me restava estava mais quente que um caldo verde. Era água de uma bica que já me safou muitas vezes. Quem vem da Covanca para a Malhada Chã, uns cem metros antes de atravessar a pequena ponte sobre o rio Ceira há um pequeno tanque à direita com uma bica e, 20 m mais à frente, há outra bica com água da mesma nascente. Nunca falha, sempre fresca mesmo nos dias e Verões mais quentes e secos.

Do picoto regressei à barragem de Sta. Luzia. Só faltou ir ao Colcurinho para fazer os 4 gigantes do Açor. Nesta volta lembrei-me de uma que relataste sobre os três do Açor.

No Gondufo (mesmo no marco geodésico) reparei que há uns caminhos novos que vêm do lado das Pedras Lavradas. Na tua reportagem mostras um caminho do alto de Sobral São Miguel que vem apanhar o estradão que vem da Teixeira. É isso não é? Portanto, agora é mais fácil passar do Gondufo para as Pedras Lavradas. Mas parece-me que, estando no estrdaão que passa na base do Gondufo é preciso descer ainda um pouco para apanhar esse estradão que vocês fizeram.

Outra coisa, devido ao incêndio de há dois anos, abriram um corta-fogo desde o marco geodésico do Gondufo até ao estadão que vem de Sobral de São Miguel para o Cebola. Aliás, se reparaste o caminho qe passa na nascente do Ceira vai terminar nesse corta-fogo uns 50 metros antes do estradão. Indo com pressa parece-me mais rápido (mas menos bonito) para passar da crista do São Pedro-Gondufo para a do Cebola.

Um grande abraço e, nunca se sabe, pode ser que nos encontremos por lá um dia

João

Tiaguss disse...

Viva João
Foi mesmo no dia 22 que por lá andei. Como nos dão alento e nos limpam a alma, estas serranias :)
É verdade, agora há uns novos rasgos naquelas encostas, mais chegadas às Pedras Lavradas. Ainda há tão pouco tempo, era tão moroso passar nas Pedras Lavradas rumo à crista Gondufo/São Pedro do Açor e até mesmo chegar dali ao Cebola, agora é só escolher...
Aquela aguinha na encosta da Covanca, antes de chegar à ponte do Ceira é um Oasis naquele deserto verde maravilhoso. Quando no Verão saio de casa a caminho daquelas bandas, a zona da Covanca e Malhada Chã, calha-me sempre a meio do dia, no pico do calor... tantas vezes aquela agua fresca me soube tão bem. :)
Já quase nos cruzámos pelo Açor, um "par" de vezes, mas temos de combinar uma coisa, na próxima "época balnear" vamos combinar bem isso, com uma investida à maneira a picar, bem picados aqueles talefes. Esperemos encontrar direitinho o Cebola, que há 15 dias foi atingido por um raio e ficou parcialmente destruído.

Um grande abraço e até breve