(O mote foi a Serra do Açor, uma volta que deu para visitar a Cebola, o São Pedro do Açor e a Srª das Necessidades, poderia-se chamar a volta dos 3 montes rosa, mas ficou os 3 do Açor. Um passeio que passa pelas três principais elevações desta bonita serra)
Mais uma vez sem grandes planos, mas com a vontade e a necessidade de dar uma boa volta de bicicleta. Uma coisa era certa, quinta e sexta seriam para pedalar, mas faltava o "plano". Decidir as coisas à ultima hora dá nisto, mas por vezes até resulta bem essa falta de planos. Uma noite era certa que iria dormir fora (quinta para sexta), mas ainda coloquei em cima da mesa sair na noite de quarta como fiz com o Mané há uns tempos, ir dormir à serra e seguir viagem no dia seguinte.
Não o fiz! Acomodei-me, pois eram 23:00 (não era tarde) e ainda não tinha preparado nada.
Saí de manhã na direção da Cebola, queria um dia a boa maneira da TP, só que desta vez teria de carregar a roupa para os dois dias, comida, saco-cama, toalha, etc... O local da dormida ainda estava no ar, logo se via...
Para já o objetivo era a Cebola, o ponto mais alto da Serra do Açor. Para lá chegar, não inventei muito. Tentei a forma mais rápida e mais curta de me aproximar deste fantástico monte.
Do Tortosendo, rumei ao Paul, pelos caminhos mais habituais. A ideia era desfrutar o dia, mas não perder muito tempo na "aproximação". É que nas ultimas vezes, o entusiasmo no sopé tem-me feito chegar tarde ao cimo da Cebola o que obriga a regressar com algumas pressas. Tanto desta, como desta tiveram em comum regressar pelo Sobral de São Miguel, por ser o regresso mais rápido a casa. Mas só de imaginar subir tanto por aquele "caminho eólico" de macadan, tuvenan ou sandocan (ou como raio se chama) fez-me logo desistir de ir por lá. Chegou bem tê-lo feito no Verão passado com a malta do clube. Faz-se, mas não "é bonito" de se fazer. Prefiro de longe um caminho mais acidentado, mais escavacado, com as laminas de xisto apontadas ao céu.
Passeio o Paul. Fui-me aproximando da zona o mais direto possível. Começava a chegar a hora de tomar decisões. O Mazagão tinha de o gramar, quer fosse por um lado ou pelo outro.
Das ultimas investidas, alarguei sempre a volta pelo Ourondo, ou pela Barroca. Desta vez o ir direto passava por ir até Casegas e depois ver na encosta o que mais me agradava.
Deixando a Serra da Estrela para trás, saltei do Paul para Casegas. As encostas da Serra do Açor estavam cada vez mais à minha beira. Da forma como estava a correr o dia, o desenho da volta estava a ficar cada vez mais definido. Mas primeiro, vamos à Cebola!!!
A urze dá a esta serra uma pintura rosa. Uma imensidão de rosa que se espalha por tudo quanto é sitio. Aproximava-me mas antes de começar a subir teria ainda de descer bastante. Nada que já não estivesse à espera.
Já nas encostas da Serra do Açor, mais propriamente da Cebola, algumas aldeias "sós" espreitam no silencio que paira por ali. Avista-se a Cerdeira, avista-se São Jorge da Beira. Provavelmente em São Jorge já não se pode falar em silêncio, pois ali a vida da aldeia passa pelas Minas da Panasqueira e existe quase sempre um ruído de fundo que quebra qualquer silêncio local.
Entretanto o tempo ia passando e antes de descer tudo, parei para "pic-nicar". Parecia que estava a adivinhar que não iria passar em muitas aldeias. Felizmente vim bem munido de comida e bebida quando saí de casa.
Depois deste magnifico sitio, comecei a subir o caminho que vai até à estrada que liga São Jorge da Beira à Cerdeira e mais à frente ao Sobral de São Miguel.
Já me encontrava na encosta da Cebola e o meu raciocínio foi: "por onde é que já subi deste lado?"
A primeira vez que por aqui andei trazia (enganados) três amigos. Comigo, fazíamos um grupo de quatro enganados. Agarrados às cartas topográficas que resultou numa volta valente. Essa passagem pela Cebola está marcada a vermelho, vínhamos nós pelo Sobral de São Miguel. Foi a volta que deu inicio ao blog TiagussBTT, tal era a vontade de partilhar com o mundo a nossa aventura.
A investida por São Jorge da Beira é que está marcada a Castanho.
Marcado a lilás está a investida feita com a malta do clube no ano passado, subimos dessa vez pelo estradão eólico.
Faltava a subida marcada a verde. Estava feito o raciocínio. Estava escolhido mais um bocado de percurso para este dia.
Passei o alcatrão e comecei a subir. No chão, por aqui há vestígios de BTT....
Antes de passar pelo Manhão, um marco geodésico que fica no meu caminho, parei para atender o telemóvel. Depois de falar, meti novamente a mochila às costas e ouvi um barulho no meio do pinhal. Meio assustado vi algo mexer. Coelho não era, raposa também não. De repente uns 5 ou 6 javalis pequenitos atravessavam o caminho à minha frente. De seguida veio a mãe deles todos. Sempre ouvi dizer para ter cuidado com os javalis, principalmente com as porcas quando andam com as crias. Os bichos são normalmente assustadiços, mas esta parou no caminho a olhar para mim. Ainda pensei, vou ter de bater em retirada e depressa, pois mesmo com dois berros o bicho não saiu do caminho. Entretanto decidiu ir ver das crias. Ela passou e eu respirei de alivio! Tirei a maquina para registar o local do encontro e ouço novamente barulho no mesmo sitio. Mais uma vez um outro grupo de 4 ou 5 javalis pequenitos e mais um grande atravessavam o caminho, desta vez sem parar. A maquina estava na mão e ainda deu para registar o local, mas com bicho incluído.
A "perna" deixou de tremer e segui viagem. Deu para o susto.
Depois do Manhão a subida continuava e bem. Em contrapartida a paisagem ficava cada vez mais deslumbrante.
A subida à Cebola, que hoje poderia ter o nome de monte rosa corria muito bem. Cheguei à pequena capelinha de Santa Barbara, onde entronca o caminho que tinha feito há uns anos com o Sousa, Coelho e Valdemar.
A pausa serviu para muito. Serviu para descontrair, refletir, espairecer, rezar.... ganhar forças. Estes passeios para mim também servem para olhar para dentro, para falar com os nossos botões. Vamos de bicicleta, mas isso é somente um pormenor. Pormenor delicioso, mas um pormenor.....
Do lado de trás da Cebola, avistava-se outro monte rosa. O segundo ponto mais alto da Serra do Açor estava a piscar-me o olho e ainda nem ao primeiro tinha chegado. Mas o plano ficou ali decidido. Depois da Cebola, o destino era o talefe São Pedro do Açor.
Deixei a capelinha e as vistas sobre a Estrela. Hoje era o dia dos montes rosa......
O cimo do monte estava a chegar e ao mesmo tempo, tínhamos uma perspetiva dos imponentes vales a Este.
Cheguei à Cebola!!!
Não me canso de dizer que é dos sítios das vistas mais fantásticas que conheço. Vê-se tanta coisa daqui.... Não é a mesma coisa, mas fica aqui um pequeno video....
A paragem aqui é sempre mais demorada. Além da vontade de comer, apetece muito estar sentado e simplesmente olhar para o que temos à nossa frente.
Já no vale do Rio Ceira, avista-se a Malhada Chã. Do outro lado avista-se "as costas do Piodão" e no cimo o São Pedro do Açor. A bonita subida que se seguia estava mesmo ali à minha frente. Rapidamente eu iria perder o estatuto de mais alto, pois rapidamente se chega à Covanca.
Na descida ainda parei para fotografar a Barragem do Alto Ceira, a Covanca e mais abaixo as placas mais fotografadas desta região, pela simples razão de oferecer ao visitante duas alternativas para Côja e para Arganil.
Já muitas vezes por aqui passei de bicicleta. Para ver alguém só mesmo entrando no centro da aldeia e nestes dias de calor, o mais certo é estar tudo recolhido. Em dias muito quentes esta zona é terrivelmente quente.
À semelhança de muitas outras aldeias do país, apercebemo-nos das várias "fases de abandono". Houve alturas em que as pessoas foram deixando as terras e as suas casas fixando-se nas aldeias mais próximas. Estas cresceram, tiveram escolas em tempos, mas agora até essas escolas caminham para ruínas...
Passei pela Covanca e a paragem foi no já conhecido ponto de água bem fresquinha à beira da estrada antes de chegar junto do Rio Ceira.
Cheguei à Malhada Chã a subir, mas era só o inicio da subida. A partir daqui era novamente uma subida digna do nome.
Uma de muitas casas florestais ao abandono do país, encontra-se nestas encostas do Açor.....
O Açor estava maravilhosamente pintado de rosa. Abençoado o dia que decidi vir para estas bandas....
Aos poucos aproximava-me dos 1342 metros de altitude do São Pedro do Açor e a Cebola com os seus 1418 metros, estava aparentemente quase "da minha altura".
As vistas aqui tambem convidam a parar. Mas desta vez a paragem não estava tão agradável, pois o vento que se fazia sentir era o suficiente para me arrefecer.
Mas fica outro video, desta vez do São Pedro do Açor....
Daqui já se espreita o Piodão, mas não é da sua "face" mais conhecida.
E inevitavelmente o destino passaria pela terceira maior elevação da Serra do Açor, o monte da Srª das Necessidades, mais conhecido como Colcurinho. Os seus 1244 metros de elevação não seriam tão dificeis de atingir, isto porque entre o São Pedro do Açor e a Srª das Necessidades não existe nenhum vale "cruelmente" acentuado. Existir até existe, mas eu tinha alternativas para eles.
Deixei o São Pedro do Açor e rumei ao Colcurinho.
Como se já não chegasse o abandono destas paragens, também o amigo do alheio tem passado por aqui. É notório que os postes são mais pequenos nestas encostas devido ao roubo de cobre que também se faz por aqui.
Apanhando uma PR marcada, segui rumo ao Colcurinho e à capela da Srª das Necessidades.
As vistas sobre o Piodão estavam cada vez mais semelhantes à imagem de marca desta pequena aldeia de xisto.
Com o nível de entusiasmo elevadíssimo, cheguei rápido ao cimo do Monte Colcurinho. Fiz aqui a paragem mais demorada. Estava satisfeitissimo com o passeio que estava a fazer.
À sombra da capela, descalcei-me e sentei-me a comer a ultima sandes que me restava.
Olhando para trás, via a Cebola, o São Pedro do Açor e eu estava na Srª das Necessidades. Já tinha passado pelos três do Açor. À minha frente estava agora a Serra da Estrela e mais propriamente Loriga, o local escolhido para dormir.
Reconhecia-se muitas aldeias. Uma delas Alvoco da Serra...
Durante a pausa liguei à minha cara metade e sem lhe dar qualquer pista pedi que me desse duas palavras-chave. Primeiro disse-me Pampilhosa da Serra. Também é um bom destino, mas disse-lhe para dizer mais duas. Ouvi de seguida do lado de lá Cebola e Colcurinho. Serei assim tão previsível?
Aqui também fiz um pequeno video....
Olhando com mais atenção, Chãs d'Égua e a bonita subida que fiz com a malta do CMG no Verão passado, antes de irmos também à Cebola.
Estava na hora de descer. Ponderei descer para Alvoco das Varzeas, por Avelar e pelo Santuário da Srª das Preces, pelo percurso que fazíamos na saudosa corrida de montanha que se realizava todos os anos aqui em Agosto e que ainda participei por três ocasiões.
Mas por aí tinha dois inconvenientes. Por me ter alargado nesta ultima paragem, já tinha que pensar melhor nos caminhos a tomar para não queimar as horas de luz que o dia me dava.
Desci então diretamente para a Vide, onde parei pela primeira vez num café para beber uma Tota-Tola e comer um pacote de batata frita. O dia estava quente, e então nestes vales abafados o calor aperta.
De seguida tinha em mente duas opções. Ou subia por alcatrão pelo Casal de Rei até à Cabeça e aí apanhava terra batida até Loriga ou então iria pelas Fradigas e pelo Aguincho. Optei pela segunda hipótese, por duas razões por aqui iria fazer mais terra do que alcatrão e como tinha margem de manobra, dava para fazer nas calmas.
A passagem pelo Poço da Broca convidava a um mergulho, mas essas aventuras não são para mim.
Passeio pelas Frádigas e atento olhei para um local que quero conhecer mais de perto (dentro em breve).
No Aguincho entrei em terra, mas desta vez não subi pelo Fontão como fiz há uns anos com a malta do clube.
Passei ao lado do Fontão, pois queria conhecer outro caminho daquela zona. Com vista sobre o Outeiro da Vinha cheguei à estrada nacional.
Restava descer.
A paragem obrigatória no mirante é a cereja em cima do bolo desta volta espectacular.
A tranquilidade e o sossego a caminho do descanso aproximava-se do meu fim de dia.....
..... e chegou finalmente.....
Tratei da banhoca e da roupa para o dia seguinte e fui jantar à Churrasqueira. À noite ainda dei uma volta por Loriga. Deu para fazer a digestão e para conhecer um companheiro de pedaladas, o Adriano.
Voltei a casa dos meus avós para dormir. Não demorei a fechar os olhos tal foi o empeno que apanhei. Felizmente consegui durante o dia fintar o homem da marreta. Não me apanhou por pouco....
O dia seguinte era o dia do regresso a casa. Não podia "gastar" o dia todo, pois de tarde tinha outros afazeres, ir buscar os meus lindos à escola e ir ao fim da tarde ter com as minhas princesas.
Tomei o pequeno almoço no Imperio, onde mesmo lá de dentro, conseguimos olhar para a encosta da serra.
E para as pernas não se habituarem mal, o regresso a casa foi feito pela Torre. Subi pela estrada da Portela do Arão e fiz um pequeno troço de terra que era do antigo caminho que aqui havia antes de asfaltarem tudo isto.
O melhor protetor solar para o dia de hoje era mesmo a manga comprida. Ajuda a proteger do sol e do vento fresco que se faz sentir por aqui.
Ainda antes de chegar à Torre, parei para comer. Fiz o meu banquinho, estacionei a bicicleta e tratei de mim....
Depois da torre, restou descer até ao Tortosendo city.
O cartão da maquina esgotou-se mesmo aqui. Estava bem programado para terminar a volta.
Dois dias que resultaram numa volta bem bonita.
Os três do Açor:
E o regresso no dia seguinte:
11 comentários:
Tratas-te bem! :)
Grande volta... escolheste as subidinhas todas! ;)
Muito boa reportagem, tens que começar a pensar escrever um livro com estes relatos! ;)
Elas iam aparecendo à frente :)
Obrigado, abraço
V i e li com muito interesse. Que maravilhosas paisagens onde a absoluta solidão se encanta fascinada! Parabéns por reportar de dentro para fora, mostrando o que se vê através da lente do seu raciocínio. Magnífico!
JMGB
São paisagens do nosso "jardim". Fazem parte do nosso Portugal enrugado onde essa solidão se encanta como escreve e bem. Mostra o lado mais bonito e mais romântico da interioridade que estes locais preservam (para o bem e para o mal). Fazem refletir muitas vezes sobre outros tempos, outras vivências... Quem por ali passou, trabalhou, viveu... realidades que o tempo levou.
Um abraço
Obrigado pela visita
Mais uma volta e relato ao nível do costume. Fantástico! Um abraço!
ps. Essa ideia do Parracho faz todo o sentido. Qual Gonçalo Cadilhe do Pedal. Ou melhor...ele é que é o Tiago Lages das viagens!
Era bom era. :)
Abraço
Mais uma grande aventura que me deixa á espera do fim de semana para descontrair nesse espirito.
Mais uma Vez ,obrigado pelo relato e fotos
Caro Tiago,
Tenho que confessar uma coisa: esta tua "reportagem" fez-me mesmo bem !
Estou do outro lado do Atlântico (em trabalho) e com um jetlag de 8 h. De modo que hoje acordei às 4 da matina aqui e, em vez de estar às voltas na cama, resolvi ligar o computador. Abri o teu blog e foi um encanto ver o Açôr. Conseguiste transmitir a sensação de estar lá. Acho que até sentia o cheiro e o vento.
Espero que tenhas deixado as pedrinhas no picoto do Cebola que usaste para equilibrar o tlm para a foto. É que espero lá ir ainda este Mês e, assim, tinha já o estaminé montado para a foto :)
Estou a pensar subir a partir das Meãs (vindo da Portela de Unhais). Já subiste por aqui?
Também me deste boas ideias para próximas voltas: do S. Pedro Açôr para o Colcurinho (onde nunca estive) e voltar para os lados do Cabril e St. Luzia (esta parte é que vai ser mais complicada para arranjar um bom percurso. Alguma ideia? Talvez voltar atrás até S.Pedro Açôr e tentar seguir a crista que vai para os lados de Fajão ).
Obrigado e espero que um dia possamos pedalar por ai juntos,
Abraço,
João
Luis, João obrigado também pelas visitas, comentários, etc. É muito gratificante. Acreditem :)
João as pedrinhas lá ficaram :)
Pelas Meãs também já subi, mas a ir ter estradão de eolicas por cima do cruzamento da Covanca. Depois subi pelo estradão que desci agora. Existe ali outra possibilidade que nunca experimentei que é das Meãs a entroncar com o da crista de São Jorge da Beira. Quem sabe se não é para este que combinamos alguma coisa :)
Abraços
Tiago, os teus relatos deixam-me sempre colado até ao último ponto...nem imaginas as saudades que tenho de pedalar contigo e a malta do clube e de me deixar arrebatar por essas paisagens! Ainda para mais dps da frustração do Grandfondo... ;)
Um grande abraço e espero que em breve haja alguma voltinha p nos encontrarmos!
Miguel Rato
Obrigado meu amigo. Aqui por estes lados a coisa também anda muito parada. Logo se combina uma investida (com "cumbibio") para a malta se voltar a juntar. :)
Grande abraço
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