domingo, maio 12, 2013

11ª TransPortugal Garmin Race



Não posso deixar de começar por dizer que é um prazer, um orgulho, fazer parte desta equipa que todos os anos "levanta" uma das melhores prova de BTT por etapas mundo. A Transportugal Garmin Race, tem recebido todos os anos BTTistas todos os cantos do mundo e são eles que o afirmam, tendo em conta as suas experiências em provas do mesmo tipo bem nossas conhecidas. 

Este ano alem de uma boa comitiva "tuga", fizeram-se representar um bom grupo da África do Sul e do Canadá. E para completar todos os cantos do mundo os participantes também vieram dos Estados Unidos da América, Holanda, México  Nova Zelândia, Itália, Austrália, Noruega, Polónia, Alemanha, Costa Rica, Suécia, Reino Unido, França, Singapura, Espanha, Dinamarca, Bélgica, Brasil e Suiça.   


A semana da prova é sempre uma semana intensa para todos. Não só para quem participa, mas também para quem está do lado da organização. Todos os dias um lote de imensas rotinas, desenrolam-se desde o madrugar bem cedo do Bruno Claro (que aos primeiros raios de sol sai de mota a bater todo o percurso para validar se tudo se encontra em condições horas antes de sair o primeiro participante) ao deitar tarde do João Aragão e do Ricardo Machado que minuciosamente verificam e resolvem os problemas das bicicletas dos participantes . A isto podemos juntar:
- o trabalho do Raul e do Borrego (para montar e desmontar meta, carregar e descarregar carrinhas);
- o trabalho do João Almeida, Ricardo Gomes e André (para recolher a bagagens de toda a gente e distribuir as mesmas quarto a quarto de todos os participantes e staff);
- o trabalho do Rui, Vanessa, Luís e Maria (que levaram e deram as tareias finais do dia com massagens desde bem cedo até as onze da noite a maioria das vezes);
- o trabalho da Lina, Mila e da Helena (que todos os dias preparavam os almoços volante para o staff e preparavam o mais saboroso e apetecido lanche no final do dia);
- o trabalho do Rui e da Marta (para controlar trackers, partidas, classificações, validação de percursos, GPS);
- o trabalho do Agnelo Quelhas e do Pedro Cardoso (para a captura das melhores imagens de cada dia);
- o trabalho do José Pereira (nos cuidados de enfermagem às mazelas adquiridas por muitos durante o dia de prova);
- o trabalho do Fael e do Raul Costa (que na dinâmica de prova  intersectaram de pick-up durante o dia alguns pontos da prova);
- o trabalho da grande BTTista Sónia Lopes (responsável pelas vendas durante a prova);
- o trabalho da Joana (responsável pela newsletter e comunicação social durante a prova);
- o trabalho do Alfredo Azevedo (que nos dois últimos anos me fez companhia a pedalar nos últimos dois dias da TP e que este ano ficou com a tarefa de guia turístico para os acompanhantes da prova);
- o trabalho do Armindo (controlador de prova que depois de dar uma mãozinha nas cargas e descargas ficava sempre com o controlo do ultimo check-point);
- o meu trabalho (que se resume em ir de bicicleta junto do ultimo participante e fechar a prova);
- ao trabalho que referi atrás, juntam-se os check-points durante a prova feito por alguns destes elementos;
- "tudo isto e muito mais" orquestrado pelos senhores Alfredo Saboga, Tiago Fonseca e José Carlos;
- sem esquecer o trabalho do mestre António Malvar (mentor de todo este projecto) que graças às novas tecnologias, esteve fez o seu trabalho a partir de Lisboa.

Juntando a tudo isto os 76 participantes, tivemos a Transportugal Garmin Race 2013.

Com os "postais ilustrados" e com as mais belas imagens capturadas pelo Agnelo Quelhas e pelo Pedro Cardoso,  vou tentar dar uma ideia do que foi para mim, esta excelente semana de BTT.

Enquanto na quinta feira os participantes e a maioria do staff se instalaram em Bragança, a comitiva da beira interior (eu, Agnelo, Marta e Rui) fomos para cima na sexta de tarde.

Sexta feira, o dia 0 serve para a acreditação dos atletas, montagem e teste de bicicletas, briefing, etc..... tudo para entrar no dia 1 da melhor maneira.








Dia 1: Bragança - Freixo de Espada à Cinta: 142 Kms


A partida oficial estava marcada para as 9:00, mas os primeiros atletas (com handicap) partiram 1h:20m mais cedo. Na partida concentrava-se alguma malta conhecida. Alem das caras conhecidas de outras edições e de algumas conhecidas de outras paragens, duas delas sobressaíam obrigatoriamente pelas grandes alegrias que já deram aos portugueses quando vingavam na estrada, falo do Vitor Gamito (vencedor da TransPortugal 2012) e o do Marco Chagas.




Arranquei às 9:00, no fim de todos os participantes sem handicap. A TransPortugal tem um inicio duro com uma etapa deste tipo, pois são logo 142 Kms de montes e vales, de sobes e desces entre Bragança e Freixo de Espada à Cinta.

À saída o ultimo grupo com 21 atletas, manteve-se junto enquanto durou o alcatrão, mas logo um decidiu ter mais calma. Troquei duas ou três palavras com ele, pois era o José Peron que vim a conhecer melhor mais tarde. Pouco depois eu já estava a parar por conta de um sul africano que tinha parado "to pee". Mas até com este andei pouco, pois passados 2 ou 3 Kms, estavam a ligar-me para esperar por um polaco que tinha voltado atrás, por ter partido o telemóvel. Esperei...... e assim que o homem, chegou fomos sempre a andar bem. Via-se bem no ritmo deste homem de 54 anos, que era veterano do pedal.

 O polaco Zbigniew Wizner (Foto: Pedro Cardoso)



Com ele fiz cerca de 20 Kms, e ainda deu para eu pensar que a continuar assim, este ano todos iriam ser finishers da prova. Até que entramos no vale do Rio Maçã e encontramos o costa-riquenho Fernando Arias. O ritmo mudou bastante a partir daqui.


Fernando Arias

Com o Fernando fomos muito mais nas calmas. Apesar de superar tudo o que nos aparecia pela frente, o ritmo não era o suficiente para chegar aos CPs a tempo.
Nunca eu tinha feito esta etapa tão "de espacio" como neste dia. Mas lá fomos andando, conversando um pouco, também aliviar a pressão de o dia apesar de a fluir, não estar a correr da melhor maneira. 












Aos poucos íamos acumulando atraso. Em Caçarelhos, onde estava o segundo CP do dia, o atraso já era bem grande. Tão grande que o Fernando também optou por desistir ali, pois por vezes já entrava em sofrimento em algumas zonas.






Enquanto eu estava no segundo CP, o "novo" ultimo estava mais de 30 Kms à minha frente. A boleia foi inevitável. Com indicação do António Malvar, o Fael deixou-me em Lamoso, já depois da Bemposta, pois o ultimo aqui tinha passado também.
Arranquei até apanhar o sul africano Adriaan Visser e foi com ele que fiz os últimos 50 Kms. Ao longo da abandonada linha do Sabor, olhando uma vez mais os apeadeiros abandonados, dá uma pena muito grande ver todo este património "aos caídos". Ali nunca mais vão passar comboios!!! A forma mais interessante que tenho visto de reaproveitar antigas linhas é mesmo transforma-las em ciclovias. Espero que um dia esta seja uma irmã mais nova daquela que é a do Vouga e do Dão. Preferia lá ver comboios, mas não tendo essa esperança, espero que um dia lá veja bicicletas e veja aquele potencial turístico a ser aproveitado dessa forma.

Com o Adriaan Vesser, na passagem pelo apeadeiro de Brussó 

Já na conversa com o Adriaan, lhe ia explicando o que era o resto da etapa. Confesso que o meu entusiasmo neste dia é a altura em que se vislumbra o Douro e para ser um pouco mais ambicioso a zona onde também se avista a bonita aldeia de Mazouco.


Aqui, apesar de faltarem um pouco mais de 20 Kms já cheira ao fim da etapa.
Passamos o CP do Armindo e continuámos rumo a Freixo.



Chegamos a Freixo de Espada à Cinta!!! Com um dia comprido como este, depois da chegada o tempo é praticamente para tomar banho jantar, preparar as coisas para o dia seguinte e ir dormir para recuperar as pernas e o rabo, pois apesar da inevitável boleia do Fael, ainda me calharam 110 Kms nas pernas com muito para/arranca pelo caminho. Antes de ir para a cama, ainda deu para tomar café com um familiar, o meu primo Mané que estava em Freixo. Em pleno gozo das ferias, de alforges montados na bicicleta e em autonomia já tinha ido da Guarda, Rio de Onor, já tinha passado por Bragança, tinha dormido a ultima noite em Vimioso e estava ali pronto para um cafezinho familiar, antes da hora da deita no quartel dos bombeiros que lhe tinham dado a "mão" já que ali estava tudo lotado com malta da TP.



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Dia 2: Freixo Espada à Cinta - Guarda: 110 Kms


Domingo, dia da mãe e segundo dia de prova da Transportugal Garmin Race 2013.
A partida oficial, isto é, a ultima partida, foi dada às 10:00. Arranquei junto do ultimo grupo que ainda cedo se começou a desmembrar na primeira subida depois de termos saído de Freixo de Espada à Cinta.



Cheguei a Poiares com o José Peron que tinha conhecido no dia anterior. Fizemos a descida e entramos os dois na calçada de Santa Ana. Ainda praticamente na primeira metade da descida da calçada, apanhei o suíço Peter Ackermann com um rasgo no pneu. Depois de resolvido o problema, continuamos até à ponte da Ribeira do Mosteiro.







Já na parte de subida, ouvia uns berros lá de cima junto à estrada. E quem era? Novamente o Mané que seguindo o seu trajecto passou por ali para ver passar a prova.

À saída da calçada (Foto: Mané)

Mas ao chegarmos ao alcatrão fiz nova paragem, por causa de novo rasgo no pneu, mas desta vez no da bicicleta da americana Dianna Ineman. O casal tinha varias coisas em comum e uma delas, os mesmos pneus muito xpto e leves, o que numa prova longa e de terrenos agressivos como esta pode não ser boa ideia.


Resolvido mais este problema e segui-se o alcatrão até Barca d'Alva, onde ao passar o Rio Douro deixaríamos Trás-os-monte e Alto Douro e entraríamos na Beira Alta, deixávamos o distrito de Bragança para entrar no da Guarda.

Claro que a minha cabeça fazia contas ao possível local onde iria encontrar o Fernando. Não me enganei muito! No inicio da subida do dia, logo a seguir a Barca d'Alva fiquei só com Fernando. Lembrava-me bem desta etapa no ano passado que com o mexicano Marco Gomez fiz metade de toda a subida a pé e a outra metade de bicicleta tal era a dor no joelho que ele trazia. Lembrava-me que quando ele ficou em Castelo Rodrigo eu estava tão atrasado que só apanhei novamente malta em Pinzio, já perto da Guarda. Mas este ano foi um pouco diferente....

Fui subindo e conversando com o Fernando. Com este simpático costa-riquenho, ainda fiz a parte pior de toda a subida até à Ribeira de Aguiar, onde ainda tive oportunidade de dizer ao meu amigo Simão que estava aqui, bem ao lado da terra dele. Durante a subida ainda apanhamos mais malta conhecida, desta vez a "tropa" de Figueira de Castelo Rodrigo, que aproveitaram para ver passar a prova já que por ali andávamos no seu jardim.


Já quase em Figueira de Castelo Rodrigo, o Fernando dizia-me que estava a pensar em desistir assim que chegássemos o próximo CP. Fiquei com bastante pena, pois ao Fernando vontade era coisa que não lhe faltava, mas estava certo que a preparação deveria ter sido outra para poder apreciar em pleno as bonitas paisagens que a prova lhe proporciona.

Ainda antes de Figueira tivemos hipótese de nos cruzarmos com o Fael, o que antecipou a desistência do Fernando. Já não subi a Castelo Rodrigo, pois já toda a gente tinha lá passado! O atraso era idêntico ao do ano passado e por indicação do António, o Fael foi deixar-me a Vilar Torpim, onde entrei novamente no percurso. Apanhei então a companhia do brasileiro Filipe Xavier, que apesar de bem disposto trazia um ar abatido, pois não se estava a sentir a 100%. Este simpático brasileiro é amigo do casal Alfaia, amigos que fiz na prova do ano passado.





Seguiu-se a passagem por Almeida, a visita às muralhas e a descida para o Rio Côa.





E como o dia até teve algumas paragens, ainda antes do Côa houve lugar para mais uma, pois aquela apetecível descida entusiasma e muito. O resultado foi mais um pneu rasgado!! Desta vez o azar coube ao Craig McGhee. Ainda tentou com câmara remediar a situação, mas era uma sorte muito grande dar para chegar ao fim. A melhor solução passou por ser penalizado uma hora e chamar pela assistência, neste caso o Fael, que trazia na pick-up material de socorro, ou seja um pneu para montar na bicicleta. Olhando para o porte atlético dele, ainda comentei com Fael, "Já me vai por a ganir, até à Guarda". Mas assim que o problema ficou resolvido, imprimiu  um ritmo acelerado, mas que deu para acompanhar sem problemas.






Ainda antes de chegar ao Freixo (não é o que tem Espada à Cinta, é o de Almeida), em Leomil apanhamos o Filipe no fontanário. O Craig seguiu e eu fiquei com ele.

Mas como era dia da mãe, tinha de dar um beijo à minha. A passagem pelo Freixo era para mim o ponto de passagem mais esperado do dia, pois ali tenho sempre família à espera e lá estava ela, o meu pai, a minha tia  e a minha mãe.


Com a minha mãe (Foto tirada pelo meu pai)

Depois da pequena pausa, segui viagem e voltei à companhia do Filipe e a nós juntou-se o canadiano Jean Halle que com dores horríveis no joelho esquerdo levava uma pedalada mais calma. Passamos juntos o CP de Pinzio e um pouco antes do Jarmelo fiquei sozinho com o sueco Michael Schroder que estava parado a reparar um furo.


Não foi o único furo, pois um pouco antes da Guarda voltou a furar. Em cima da hora, deu para chegar a tempo à meta instalada no Hotel Lusitânia.


Seguiu-se o lanche, as lavagens e o jantar....
Mais tarde e depois de dar um "jeito" na bicicleta, fui às mãos do Rui Queixada para uma massagem, o dia seguinte, o da Serra da Estrela, promete sempre.



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Dia 3: Guarda - Unhais da Serra: 108 Kms




A terceira etapa, para muitos considerada a etapa rainha da prova começou com o dia um pouco cinzento e a prometer alguma chuva no final do dia.
À partida juntamente com os meus pais e tia, apareceu o meu primo Pedro para ver a partida já que ontem não chegou a estar pelo Freixo.


Saímos em direcção à Ribeira de Massueime para trepar a subida mázinha do Rui Sousa na direcção do Alvendre, onde encontrei o prof. Castro de maquina fotográfica em punho a ver os primeiros sofrimentos do dia :)
Dali seguiu-se a subida ao Barrocal e com a Guarda mesmo ao lado, seguiu-se a descida pela calçada romana do Tintinolho.








Andei este inicio de dia com o José Peron e estava bem contente de o encontrar, isto porque, apesar de o ver nos dois primeiros dias logo no inicio, a verdade é que o José arranca e mantém o andamento certinho até ao fim de cada etapa.

Mas os dias anteriores já começavam a deixar mazelas no corpo e uns Kms ainda antes do primeiro CP, antes de chegar à Mizarela e começar a subida que pela Guarda chamamos de rainha, apanhei muito aflito do joelho o canadiano Jean Halle. Já tinha acabado a etapa  de ontem em sofrimento e decidiu iniciar a etapa 3 com o joelho numa lastima. Assim que chegámos ao CP, já ultimo tinha passado à 15 minutos. O Jean ficou no CP e eu segui sozinho pela "rainha" acima.


Encontrei o Adriaan já no fim da subida um pouco antes de entrarmos no alcatrão, virámos para Videmonte onde apanhámos o José e dois belgas o Lieven Bauwens e o Danny Focquaert a reparar um furo.

A melhor agua em Videmonte

O Adriaan e o José continuaram e eu fiquei com os belgas que não diziam nem uma palavra em francês nem em inglês. Como o dia não lhes estava a correr da melhor maneira só falavam entre eles ...... provavelmente em flamengo. Foram a minha companhia até pouco depois da portela de Folgosinho. Deu bem para repara que esta dupla já é de há muito tempo. Um deles fazia a etapa com algumas limitações, o outro não lhe faltou com apoio uma única vez. Notava-se bem a diferença de andamento de um e de outro, mas nem assim se separaram durante o dia.





Depois de passar o segundo CP do dia, a seguir à portela de Folgosinho, começámos a subir para a Santinha, subida que nos últimos tempos se tem aguentado em muito bom estado. Ao passar junto à fonte que se encontra na subida, encontro uma bicicleta parada, mas BTTista nem vê-lo. Os belgas continuaram e eu fiquei à espera que alguém aparecesse. Era a bicicleta do Michael e como ele tardava em aparecer berrei um par de vezes "Michaaaeel".  Passados uns momento a chamar por ele, lá o ouvi (atrás do mato) a dar sinal de vida. Mas quando apareceu, não estava lá muito bem. Queixava-se do estômago e já tinha passado um pouco mal até ali. Ponderava desistir, mas como ainda era cedo, disse-lhe que poderia fazer os 3 Kms que faltavam de subida e desfrutar os 25 Kms de descida até Manteigas. Depois logo decidiria o que fazer.

Foi até à Santinha, a primeira subida do dia aos 1600 metros mas decidiu desistir ali. Fez a pior parte, mas não se sentia em condições de rumar em cima da bicicleta até Manteigas. O Fael estava perto e "carregou-o" na pick-up enquanto eu, segui viagem.

 





Ao passar no Ti Branquinho, ainda levantei a mão e gritei que hoje não ia ali parar, mas que logo logo lá fazia mais uma visita.

Desci até à Cruz das Jogadas onde estava o terceiro CP do dia, como Rui Queixada e o Zé Pereira. Estava a 15 minutos da ultima malta que ali tinha passado. Entretanto acelerei o "passo" da descida a ver se conseguia arranjar companhia para subir aos Piornos.





Assim que cheguei a Manteigas, passei o rio e ainda no alcatrão apanhei o mexicano Jorge Schiller e mais à frente o Adriaan.
Comecei a subida com eles até ter um problema técnico e ficar sozinho. Algo se passou na descida e ao dar umas pedaladas (felizmente para mim, em subida) e o rabo fugiu-me juntamente com o selim. O meu lindo espigão (de titânio) decidiu entregar ali a alma ao criador.


Em pouco mais de 5 minutos resolvi o problema, arranquei o que estava dentro do quadro, acabei de partir o que faltava e coloquei o resto no sitio. Claro que com o selim mais baixo fixo por pouco, só colocado para descansar as pernas durante, a subida foi feita em dois modos, ora em pé ora sentado como a malta do dirt, pois a perna mal esticava ao pedalar.


Apanhei novamente o Jorge, o Adriaan, os belgas o José e o Lourenço Lobo. Fomos ganhando altitude olhando deste fantástico miradouro para o vale glaciar do Rio Zêzere. À medida que o tempo ia passando, o tempo foi ficando mais instável, mais cinzento e a ameaça de chuva passou a ser mais que uma certeza.




A diferença de andamentos na subida fez com que a malta se separasse. Os belgas foram os primeiros a descolar do grupo, depois o José e o Adriaan. A descida para Unhais da Serra foi feita já debaixo de uma chuva miudinha e feita na companhia do Jorge e do Lourenço.

Ao chegar a Unhais, uma surpresa que não estava a contar. Os meus pais e a minha tia Elvira, estavam de viagem e aproveitaram para fazer um pequeno desvio para ver a chegada a Unhais.



Não chegando as gotinhas de agua que caiam do céu neste dia, o momento mais agradável foi poder ter jantado com as minhas duas botinhas de água e com a minha princesa.
Na nossa mesa ao jantar estavam o Lieven e o Danny, os dois belgas que falavam em código durante o dia. Mas foi uma surpresa agradável, pois terminado o dia de sofrimento estes estavam muito bem dispostos e muito conversadores. Afinal também falavam bem inglês!! :) Com todas as dificuldades, foi um dia duro para aquela dupla, mas o dia desta magnifica etapa estava superado.

O espigão se tinha de partir, partiu na etapa certa, pois tinha outro ali bem perto da mesma medida no meu velhinho GT, de nome lolita.


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Dia 4: Unhais da Serra - Termas de Monfortinho: 110 Kms


Depois da etapa de montanha do dia anterior, o quarto dia traz aos participantes uma etapa bastante mais simples. A únicas duas dificuldades do dia, resumem-se à subida das Taliscas para a Pedra Alta e a bonita calçada para Monsanto, ou seja comparado com os dias que temos tido até aqui, é do mais simples que há.





Parti com o ultimo grupo e tive a companhia do José Peron até às Taliscas, onde passados uns momentos chegamos junto do Lourenço. Um pouco depois, já praticamente no caminho onde intersecta a subida da Coutada, apanhamos o Fernando. Ficamos novamente só os dois, mas o Fernando já trazia um problema nas mudanças da frente, mas nada que inviabilizasse fazer a etapa.

Acabado de fazer a subida, descemos ao Peso, passámos o Zêzere e ao chegamos ao CP do Fundão sem grande stress. A paragem seguinte foi na Fatela, no fontanário do costume mesmo junto à estrada. O meu primo Pedro que andava pelo Fundão, ainda fez o desvio até ali, mas foi só durante o tempo de comer qualquer coisa e encher os cantis. Mas pouco de pois de começar a subir o manípulo das mudanças de trás da bicicleta do Fernando encravaram e foi inevitável ser recolhido. Com a ajuda do Fael, saltei 10 Kms pois mais uma vez o nosso atraso era considerável, nada que não fosse possível recuperar pois ainda faltava muito para terminar o dia.

Quando cheguei junto da cauda da corrida a malta era o José, o Lourenço, o Schiller e o Adriaan.  










E foi com eles que entrei na calçada romana para Monsanto. Encontrámos por lá o Pedro Cardoso a tirar fotos e seguimos até à aldeia mais portuguesa de Portugal.
Como estávamos com tempo suficiente, decidiram parar no café. Somente o Jorge Schiller seguiu dizendo que logo o apanhávamos. No café, houve direito a coca-cola, à ultima sandes do dia e ainda houve quem não saísse sem comer um gelado.

Também descobrimos aqui que o Adriaan, sabia duas frases em português, "camisa para cima" e "calças para baixo". Com esta é que ninguém estava à espera, mas a explicação é simples, sendo ele médico ena África do Sul  e tendo muitos utente vindos de Angola...... a explicação está dada.




Descemos mais uma calçada romana até ao ultimo CP que tinha novos elementos no STAFF, e continuámos  para os últimos vinte e poucos quilómetros até à meta.







Pelo caminho apanhamos o Jorge como ele previa e seguimos todos juntos até ao final, o José, o Lourenço, o Jorge e o Adriaan.



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Dia 5: Termas de Monfortinho - Castelo de Vide: 144 Kms


Esta etapa, apesar de ter mais de 140 Kms, é uma etapa rápida, principalmente os primeiros 70 Kms. Em 2011, a primeira vez que a fiz, "provei" logo do quanto é mau ficar para trás com um dos da frente. O agora enfermeiro da prova, José Pereira, se não me engano estaria em 6º da geral, rasgou um pneu nos primeiros Kms o que implicou chamar a "assistência" com um pneu novo. Claro que tamanha espera, o obrigou a acelerar o passo para recuperar não correr o risco de ficar retido no CP onde era o corte.

Mas este ano tudo da melhor maneira.





Saí com a ultima malta, e perto da pista de aviação junto à fronteira foi a altura do grupo se começar a desmembrar. Andei com o José estes primeiros quilómetros sempre a um bom ritmo.




Este ano a prova esteve mais rápida, o andamento foi muito homogéneo. A cauda da corrida esteve sempre mais rápida que os últimos anos. Já para não falar que a frente da corrida, a locomotiva deste comboio, o Vitor Gamito bateu este ano quase todos os recordes das etapas.


Passamos Alcafozes na Srª do Loreto, e depois onde enchemos os cantis na conhecida ermida da Srª do Almortão. Notava-se alguma preocupação do José em apressar o ritmo, pois ao contrário das etapas anteriores, que começava com um ritmo mais moderado e aos poucos começava a passar gente, neste dia, os quilómetros iam passando e não se via nenhum participante no horizonte. Ao mesmo tempo, à medida que o tempo passava eu dizia que a correr como os dias anteriores, apanharíamos alguém.

(Foto: Filipe Roberto) 

(Foto: Filipe Roberto) 

E ao passar por Lentiscais apanhamos!! Apanhamos nada mais nada menos que o meu amigo Filipe Roberto, isto porque (como ele referiu) a TransPortugal passou pelo meio do escritório dele :) E que bonito são os escritórios deste tipo no meio do monte..... eh eh

Em Lentiscais fizemos o desvio para entrar na aldeia e ir à associação beber uma coca cola fresquinha e seguir viagem.




Já na casa dos 100 Kms, entrámos em Vila Velha de Rodão. Seguia-se a parte menos simples da etapa, ao entrar no Alentejo. Um Alentejo muito beirão como lhe costumo chamar, isto porque de plano ainda pouco tem. Estávamos nós a programar uma segunda paragem, a do almoço, quando encontramos na vila, num café à beira da estrada o Lourenço. Aproveitámos e paramos também. Depois da sandes de presunto e marmelada, uma coca cola e uma garrafa de agua eu estava pronto para os 40 Kms que faltavam. Os gulosos ainda foram a um geladito para refrescar ainda mais.





Passámos o Rio Tejo e entrámos no Alentejo. Apanhamos o belo trilho à beira do rio até começarmos a subir progressivamente para o planalto.




Dali para a frente o trio manteve-se, juntos subimos a pé a rampa de Salavessa, avistámos o Marvão e Castelo de Vide.






E como esta etapa acaba em beleza, subimos a calçada de Castelo de Vide para entrar por uma das antigas portas do castelo onde estava a meta.





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Etapa 6: Castelo de Vide - Monsaraz: 165 Kms


E o sexto dia é o dia para se fazerem de muitos quilómetros, muitas horas e ..... abrir e fechar muitos portões.
Ao contrário do dia anterior a parte inicial desta etapa é bastante lenta e é bem natural nos primeiros quilómetros ver o tempo passar rápido e os quilómetros nem por isso....




O dia amanheceu cinzento quase a ameaçar chuva e estava um "calor esquisito" :) O inicio da etapa foi mais o cedo dos dias, tendo o grupo sem handicap partido às 8:30. Ainda no alcatrão tive de fazer um compasso de espera (pequenino é certo) pelo Rui Martins, que deu conta (a tempo) que não levava o gps a gravar o percurso. Voltou atrás e já com tudo gravadinho, entrámos na calçada para sair de Castelo de Vide, a subir para começar bem o dia.






Entretanto durante a subida fomos apanhando mais malta e o Rui rapidamente fugiu. Fiquei com o José já praticamente antes de se iniciar a descida também em calçada.


Também é normal nesta descida aparecerem no caminho malta com problemas técnicos. Esta calçada é das mais chatas que a prova tem (na minha opinião), já vi rodas XTR sairem daqui feitas num oito com tamanho empeno que até nas escoras da bicicleta tocam, já vi furos, etc.... É uma descida para chocalhar o esqueleto todo.
Enquanto descia com o José, avisto alguém parado já com a roda ao lado. Era o Tom Letsinger que tinha estragado o pneu traseiro.


Resolver o problema não estava fácil. O pneu tubeless, já não podia ser usado como tal e para colocar uma câmara de ar, faltava a árdua tarefa de tirar a válvula do aro. Estava difícil, muito difícil. Primeiro porque não conseguia desapertar a anilha da válvula e depois ao desapertar rodava tudo. Ajudei-o pois um só não conseguia solucionar o problema. Enquanto um desapertava o outro teria de segurar o resto. Tentou-se segurar com a mão, com folhas, com as luvas, cascas, etc...... rodava sempre tudo. Foi então que consegui com dois PAUS fazer pressão na anilha, as ranhuras lá se cravaram na madeira, criando bastante resistência e o Tom conseguiu desapertar e tirar a válvula. Depois de meter câmara de ar e encher o pneu, foi só montar tudo e..... descer. Claro que a minha ajuda valeu uma hora de penalização, mas assim não hipotecou a etapa e consequentemente a ser finisher da prova.

Só a titulo de curiosidade, este americano trás uma configuração única para a TransPortugal. Um quadro  titânio desmontável (ritchey breakaway), com uma forqueta rígida, um prato pedaleiro à frente e uma cassete de 11 velocidades (10-42 dentes).

Na descida..... o Tom (sem suspensão, naquela descida massacrante.) fugiu-me e fiquei alone!  No fim do dia, tive que na brincadeira lhe ir perguntar onde é que ele tinha escondido a suspensão, pois só via aos pinotes, com a burra aos coices durante a descida e a ir embora.


Acabou a descida e seguiu-se mais uma subida com alguma pedra e calçada pelo meio. Tive direito a foto, pois ainda andava por aqui o Agnelo.

Segui sem pressa mas a um ritmo certinho, pois seria normal apanhar alguém mais cedo ou mais tarde. Passei por Alegrete e pelo primeiro CP com cerca de 30 Kms. A parte mais morosa do dia estava feita, faltava arranjar companhia e seguir viagem.





Em Mosteiros ainda passei sozinho e um pouco depois apanhei o Lourenço. Andamos uns quilómetros até apanhar um muro enorme de pedra no meio do caminho publico. Mas já havia malta para ajudar.....


Os quilómetros só com o Lourenço não foram muitos, pois apanhamos o Jorge Schiller com um furo. Esperei que ele resolvesse o problema e seguimos até apanhar novamente o Lourenço que já encontramos na companhia do José.





A história durante a etapa é simples, tirando os mais de 20 portões que tivemos de para para abrir e fechar para passar, foi praticamente pedalar, pedalar, pedalar....
Ao contrário dos quase 40 graus do ano passado, este ano a temperatura estava mais meiga. Na paragem em Vila Boim, mesmo ao lado de Elvas notei bem isso. Já estava calor, mas não se tornava desagradável. Paramos no café do costume e lá vieram as aguas frescas para os cantis, as coca colas e eu lá saquei de mais uma sandes.








Neste fim de dia, já apanhámos uns dos braços do Alqueva e depois de passar por eles e de chegar ao Covento da Orada faltava subir a calçada para Monsaraz. Na minha opinião a calçada mais simples destes 9 dias, só tem um único inconveniente, já lá chegamos com mais de 160 Kms nas nesse dia. Uma maratona de BTT em cada perna.








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Dia 7: Monsaraz - Albernoa: 143 Kms



Este é um dos supostos dias mais simples, onde a maior dificuldade (normalmente) está associada ao calor que por vezes se faz sentir por estes lados. Amareleja, a terra onde é comum registar a temperatura mais alta do país está por aqui e se por acaso o Rio Ardila levasse muita água, era mesmo à Amareleja que provavelmente iríamos virar....




Graças à construção da Barragem do Alqueva, a grande maioria dos trilhos de terra destas bandas ficaram submersos, daí que os primeiros quilómetros desta etapa sejam maioritariamente em asfalto, por estradas e pontes novas com bom asfalto que resultaram da submersão de algumas vias existentes antes da barragem ser construída.

As características destes primeiros 30 Kms, convidam a acelerar bem o ritmo, o que acontece sempre. Normalmente a primeira é feita sempre a uma média nunca abaixo dos 25 Kms/h. Estou a falar da cauda da corrida. Lá na frente..... dá para ter uma ideia... E se é vantajoso pedalar em grupo, em etapas como estas mais se nota essa vantagem.

Devido à longa etapa do dia anterior, esta tem a partida oficial marcada para mais tarde. Parti com o ultimo grupo de atletas às 10:00 e rolei pelo Alentejo fora com o José e com a malta dos Templários BTT o Rui Martins e o Luís Gil.

Mas após uma hora na companhia deste trio, passou por mim o Pedro Cardoso que me disse para esperar, pois um atleta que não era para partir, partiu e estava bem atrasado atrás de mim.


Abrandei o ritmo, o trio fugiu e fiquei sozinho. Enquanto pedalava devagar, procurava por uma sobra, coisa rara por estas bandas à beira da estrada, mas tive sorte. Encontrei a única sombra destes quilómetros eh eh

E eu esperava por quem?? Esperava pelo Roberto Pena, um galego que na noite anterior tinha sido apanhado pela virose que massacrou alguns atletas desta edição. Tinha passado a noite a vomitar, estava debilitado e na hora da partida estava no quarto e foi aconselhado a não participar neste dia. Mas entretanto decidiu tentar fazer a etapa e ali estive eu à espera de alguém que o mais certo, com o atraso e estando doente não teria hipóteses de terminar o dia dentro dos tempos.

Esperei por ele 35 minutos e quando chegou ao pé de mim, não trazia ritmo nem de perto semelhante aos últimos com quem eu ia.





Fomos andando para ver no que dava. A motivação não era a melhor, o Roberto estava debilitado, doente, não tinha descansado nem da noite nem da etapa anterior, mas lá fomos andando a um ritmo certinho. Passámos juntos o primeiro CP, molhámos os pés no Rio Ardila, fizemos a "rampa do dia" que nesta etapa se resume a uma pequena rampa de alcatrão logo de depois do rio.







Roberto, no Rio Ardila

Pelo caminho o Roberto mostrava-se confuso. Um pouco indeciso sobre o que fazer. Sabia que estava atrasado, que poderia não acabar a etapa a tempo e com a falta de descanso até poderia estar a desgastar-se de forma a pôr em causa os dias seguintes. Ao mesmo tempo eu dizia-lhe para ir comendo e bebendo alguma coisa em pequeninas quantidades por muito que não lhe apetecesse. O dia estava por nossa conta...

Entretanto pelo caminho encontrámos à sombra deitado no chão o Luís Gil. Tinha passado mal o dia anterior também vitima da virose e neste dia não estava a conseguir comer. Ainda foi andando na companhia do companheiro Rui, mas assim a tarefa era complicada e acabou por desistir. Fiquei com muita pena, pois dava para reparar que aquela dupla de amigos Rui e Luís, vinham os dois para a prova para terminarem os dois o objectivo. Deve ter sido um sentimento de tristeza muito grande para ambos, mas nem sempre as coisas nos correm da melhor maneira. Encontrei o Luís tão abatido, que nem sequer tive hipótese de lhe dizer "anda, vem connosco", pois visivelmente só o repouso o traria de volta à bom forma.

Deixamos o Luís à espera de recolha e nós continuámos o nosso caminho.




Eis que chegámos a Pias, onde era o terceiro CP do dia e onde encontrámos o Rui Queixada e a Maria Helena. À beira deles, o Rodrigo Cunha a dormir no jardim também ele a desistir na ressaca da noite mal passada também ele vitima da "virusada".

Estavam feitos 75 Kms, faltavam outros 70. O Roberto sentou-se à beira do jardim e disse para o Rui e para a Maria "não sei o que fazer". Dizia que era uma estupidez estar a desgastar-se a esforçar-se e que o mais certo era não chegar a tempo.

Perguntei-lhe como se estava a sentir nestes últimos quilómetros ao qual respondeu que dentro dos possíveis, não se estava a sentir tão mal como no inicio do dia. Disse-lhe então o que eu achava! Achava que o ritmo estava a melhorar bastante, que já tínhamos feito mais de metade da etapa e que acreditava que era possível concluir o dia com sucesso. Não poderíamos era fazer paragens muito demoradas. Nas paragens teríamos de ir logo ao que interessa. Como nesta, que era encher os cantis com agua da fonte e beber uma coca cola fresquinha (para ele sem gás :)) comer qualquer coisa e seguir viagem. Foi o que fizemos. No café ainda encontrámos o Alfredo Azevedo e as suas companhias de toda a semana, bem dispostos a almoçar. Ao pagar as coca colas, estas até já tinham sido "patrocinadas" pela Clara, a esposa do atleta Heitor Leite. Com a pressa nem lhe agradecemos como deve ser, mas mais uma vez, obrigado :)





Do terceiro CP em Pias para o quarto CP, junto da ponte que atravessámos sobre o Guadiana tudo correu espectacularmente bem. Com todas as cautelas o dia estava a compor-se e no Roberto notava-se agora o acreditar que era possível terminar a tempo.

A paragem seguinte foi na Cabeça Gorda, onde entrámos no café para comprar agua fresca, beber mais um sumo fresquinho e comer mais alguma coisa "substancial". No simpático café ainda trocamos duas ou três palavras com quem nos serviu e com dois senhores que ali estavam entusiasmados com a passagem da prova. Já tínhamos mais de 110 Kms nas pernas, estava quase....






Esta parte final da etapa, estes últimos 30 e tal quilómetros acabam por ser animadores. Alem do plano, a tendência é para descer o que ajuda a ver os quilómetros a passar rápido e o tempo a passar mais devagar.
Na minha cabeça eu já só pensava, está feito!!! Até me arrepiava só de pensar no dia de hoje e no final que iria ter. Simplesmente espectacular!!!

Durante a tarde o sol já apertava um bocado e a sede ia chegando mais depressa. As coisas estavam a correr bem e há simples gestos que dão um alento especial e que por vezes surgem do nada. Digo isto pelo seguinte, num dos estradões largos em terra que estávamos a percorrer iamos cruzar-nos com um jipe. Eu ia um pouco mais à frente e apercebo-me que o senhor que o conduzia tinha uma garrafa de agua na mão e a queria dar. Pensei, não a apanho e fica para o Roberto. Mas de repente lembrei-me "e se ele não se apercebe??", então apanhei-a eu e esperei que ele se chegasse ao pé de mim. Caso ele a quisesse ficava para ele. Reparei então que o senhor do jipe depois de me dar a garrafa a mim, tirou lá de dentro outra para o Roberto. Ali, no meio daquelas searas em pleno andamento, num episódio de cerca 30 segundos "caíram do céu" duas garrafas de agua das pequenas fresquinha que nem vou explicar o que souberam bem.

Entretanto o Roberto (desconhecendo aquele jipe Toyota verde velho) pergunta-me "também é da organização?" ao qual lhe expliquei que não, era somente um alentejano simpático que estava a adivinhar e bem o bem que nos ia saber aquela agua fresca. Há pessoas assim, há gestos assim....


E nós, em ritmo cada vez mais acelerado continuamos a pedalar. O Roberto parecia que estava cada vez menos cansado. Não me recordo da media que fizemos nestes últimos quilómetros, mas que íamos a andar bem, não tenho a mínima duvida.


Estava no papo!!! O Roberto cortou a meta, ainda antes dela fechar!!! Estava conquistada mais uma. Esta tinha sem duvida um gosto especial.
Grande espírito de sacrifício.
Que duro é, este galego!!!!


Foi sem duvida um dia de emoções fortes. Nem só dos da frente vive a corrida e esta etapa também foi vivida pelos que a acompanhavam com expectativa o seu desfecho.

À noite este texto publicado no facebook da Transportugal, fazia jus ao dia.....

"TANTOS ATLETAS QUANTO HERÓIS: A cobertura de provas desportivas tende a girar em volta dos que chegam primeiro, dos que batem recordes, dos que descolam do grupo como se não houvesse amanhã. Todos admiramos isso, inspira em nós uma sensação de que o ser humano é capaz de muito mais do que aquilo que os limites mentais sugerem. Mas nas seguintes página da lista de classificados, passada a dúzia mais gloriosa que anda à frente (e merece toda a nossa admiração) multiplicam-se até à folha final as histórias e os actos heróicos que raramente fazem cabeçalho. São as vitórias pessoais de cada um, a luta travada contra si mesmo. 
A prestação de Roberto Pena hoje é testemunho de tal tipo de resiliência e auto-superação. Quem o visse de manhã, lívido, nunca imaginaria que ele iria pedalar 8h debaixo de um sol clemente. É que Pena, atleta galego, passou a noite em branco a vomitar, atingindo pela gripe que tocou alguns atletas nos últimos dias. Não partiu no seu grupo, às 10 da manhã, e todos concordámos que tomasse o dia para recuperar. Qual não é o nosso espanto quando ele aparece no live-tracker, isolado, e bem atrás do Tiago-vassoura. O Tiago teve de ser avisado e teve de esperar por ele, e fizeram juntos a prova. Roberto declarou ao chegar que não teria conseguido sem a ajuda de Tiago, e só quem já passou por uma situação similar imagina a camaradagem que desenvolveram estes dois nestas longas 8h. Vê-los chegar foi um enorme prazer - também é com eles que se compõem as histórias heróicas do ciclismo. Também é com todos nós."

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Dia 8: Albernoa - Caldas de Monchique: 139 Kms

O resultado de uma noite de trabalho está à vista..... 

A oitava etapa é a etapa mais "traiçoeira" da prova. Falar de 140 Kms, é vulgar nesta prova. Falar de muito desnível para vencer, também o é. Se pensarmos em muitos quilómetros de Alentejo e Algarve, associamos a um dia fácil. Mas, esta etapa tem muito que se lhe diga.....

Primeiro de tudo são 139 Kms em que a parte mais técnica onde se concentram as subidas está depois dos 100 Kms. Se juntarmos a isto o calor que normalmente se faz sentir nesses últimos 40 Kms e à inexistência de fontes ao cafés, temos os ingredientes uma etapa tudo menos simples.


Partimos Alentejo fora, por entre as vinhas da quinta do hotel onde dormimos e por entre as searas e pastos  alentejanos.






Na companhia do José, fiz os primeiros quilómetros. Pelo caminho comentava com o José o dia de ontem desde o momento que fiquei para trás. Também ele tinha passado mal o dia. A meio da etapa uma indisposição fez com que ele vomitasse e fizesse o resto da etapa com alguma dificuldade.



Com pouco mais de 30 Kms percorridos encontramos o espanhol Jesus Delgado, visivelmente cansado. Muito debilitado pois tinha infelizmente chegado a vez dele. A vez de ser apanhado por esta "malina" que o tinha tornado frágil. Já tinha vomitado no inicio da manhã e queria desistir. Como sabia que estávamos a chegar a um café com sobra à beira da estrada continuou connosco.


Ao chegar ao café tínhamos lá sentado o Lourenço Lobo, praticamente nas mesmas condições. Não se estava a sentir bem, mas lá se convenceu a seguir viagem. O Jesus ficou ali à espera de ser recolhido pelo Fael. Eu, o José e o Lourenço continuamos.


Mas o Lourenço não estava bem. O José com o ritmo habitual continuou e o Lourenço foi ficando para trás. Estava completamente diferente dos dias que andei com ele, sempre bem disposto e muito bem animado. Por diversas vezes quis parar para descansar. Em duas delas quis mesmo passar pelas brasas, como quem diz... dormir um bocadinho. Ao chegarmos ao segundo CP, foi inevitável a desistência do Lourenço. Fiquei sozinho a partir daqui. Segui atrás do "prejuízo" até que me ligou o António Malvar a dizer que não era preciso ir assim à pressa, pois estava com algum atraso e seria transportado. No entanto sabendo que todos já tinham passado por Santa Clara, segui por estrada até lá em vez de me ir para os lados da barragem.







Em Santa Clara apanhei o Fael a meter gasóleo na pick-up, mas sem graveto para pagar pois o cartão pregou-lhe uma partida. Convenceu o homem da gasolineira e ficar comigo como caução enquanto ele foi buscar o "carcanhol" a outro lado.
Enquanto esperei que o Fael voltasse e enquanto isso, bebi a minha cola do dia e comi a primeira sandes de presunto e marmelada. Quando chegou, levou-me para o terceiro CP que já só estava a  2 Kms, pensei que ainda faltasse mais, nem deu para o trabalho de por a bicicleta na pick-up.

Voltei ao trilho e apanhei o Jorge Schiller. Pouco depois estávamos a chegar à primeira parede, a subida do espinhaço de cão. Fiz tudo com o Jorge e já quase no fim da subida liga-me novamente o António a dizer que eu tinha de esperar, pois estava um para trás. Perguntei-me como seria possível. O Jorge seguiu e eu fiquei a espera de nada mais nada menos que o José. Quando o vi, perguntei-lhe logo "perdeste-te, não foi?". Era a única explicação para se encontrar atrás de nós. Numa altura em que o estaríamos a alcançar saiu do percurso e distraído  não deu conta e entretanto nós passámos. Quando ele voltou ao percurso, já nós tínhamos passado.  Como a zona não tinha boa cobertura de rede, não se deu conta de imediato.

Com o José continuamos a bom ritmo. Descemos esta primeira serra, fizemos o vale que normalmente é um forno e que este ano estava somente quente. Iniciamos a segunda e ultima subida do dia já na Serra da Monchique, desta vez em asfalto. Só apanhámos o Schiller já parte final da subida, já depois do CP e quando estávamos a chegar ao cruzamento da Foia.



Até à meta fomos os três. Já na parte final, a parte das descidas divertidas ao atravessar uma estrada dou de caras com a minha irmã. Só contava com ela no final, mas afinal apareceu mais cedo. Claro que o Jorge e o José estranharam e perguntaram quem era. Quando disse que era a minha irmã, o Schiller disse uma coisa engraçada que não me vou esquecer "como te quieren", pois em muitos lados tive família que foram ter comigo para podermos estar nem que fosse um bocadinho.




Estava feito o oitavo dia!! Faltava mais um, o mais curto, o de 99 Kms para chegar a Sagres.


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Dia 9: Caldas de Monchique - Sagres: 99 Kms


Ultimo dia da TransPortugal!! Para o Vitor seria o passeio na praia, isto é, um passeio à beira mar. Sem nunca esquecer que uma avaria, uma penalização pode sempre comprometer tudo. Mas estamos a falar do Vitor Gamito, potente, experiente e em muito boa forma!! Um atleta como o vinho do Porto!

Mas ao inicio da etapa 9, com o primeiro lugar entregue, a luta para o segundo estava ao rubro, com 21 segundos a separar o Nelson Snyder do Marco Macedo. O dia prometia.....


Estava para sair com a malta das 10:00, mas a americana Terrie Clouse que tinha saído um pouco depois das nove tinha voltada atrás com um problema num pedal.
Os atletas sem handicap arrancaram e eu fiquei à espera dela. Notava-se algum desalento na cara dela e não era para menos. O ultimo dia não lhe estava a começar da melhor maneira.
Passados alguns minutos o João Aragão já tinha resolvido o problema e a Terrie arrancou e eu arranquei com ela. Sempre com um ar de poucos amigos segui à beira dela.

Mas esta etapa é sempre muito rica em furos e rasgões nos pneus. Ainda nem 5 Kms tinha feito, apanhei a primeira vitima o canadiano Huston Peschl e a Terrie seguiu viagem sozinha.
Depois de reparado o problema, segui atrás deles até apanharmos novamente a Terrie. Voltei a ficar com ela até nos chegarmos junto do José, durante um bocado que não durou muito.




Com a Terrie, paramos em Bordeira. Já não passávamos por uma terrinha há algum tempo e aqui é praticamente paragem obrigatória.
Mas mais uma vez se repete a história de sempre. Ao entrar pedia uma garrafa de agua fresca ao qual o senhor reponde "Onde que ela já vai, os seu amigos já a levaram toda!", pedi então uma garrafa de água natural e a Terrie pediu outra. De seguida pedi uma coca cola, ao que o senhor respondeu "Isso foi a primeira coisa a acabar!" eh eh ...... bebei um Frisumo. Pelo menos estava fresco!

A paragem foi rápida e passados nem 10 minutos já estavamos de volta ao trilho. Mas ao chegar à Carrapateira, vejo uma bicicleta parada numa esplanada e fiquei por lá também. Era o José que estava a fazer a pausa do meio da volta. Aproveitei e bebi lá a minha cola. Começamos em Bragança  pagar as coca colas a 1 euro por cada lata 0,33 cl  e passados 9 dias já estamos a pagar 1,30 por uma garrafa de 0,20 cl. As coisas vão encarecendo à medida que seguimos para o Sul.





Segui com o José. Tínhamos chegado à costa e estávamos prestes a pisar areia da Praia do Amado. No final da travessia a pé pela praia, apanhámos o Lourenço e seguimos os três até ao ultimo CP onde estava o Fael.









As paisagens por aqui são magnificas. E como andámos há 9 dias por montes e vales chegar à costa e vermos tudo isto, tem um sabor especial.
O José entretanto foi andando mais rápido e fiquei com o Lourenço com quem fiz o que faltava até à meta.





Sagres estava já ali!! Não víamos a hora de nos juntarmos à festa que já estaria montada no final.


O Vitor Gamito ganhou mais esta edição. Um grande atleta que como disse o Marco Macedo apresentou-se na prova um degrau acima da concorrência. Parabéns Vitor!!


O Marco foi outro que fez uma ultima etapa fantástica, começando a perder ainda mais tempo nos primeiros quilómetros do dia e na ultima metade imprimiu um ritmo forte recuperando o tempo perdido, o tempo de handicap do Nelson Snyder e os 21 segundos do inicio da etapa, garantindo assim o segundo lugar da edição 2013.


À chegada do vassoura estava já tudo em festa!!! Terminava assim esta grande prova que é a TransPortugal.


Também tinha uma surpresa à espera que era nada mais nada menos que a minha irmã. Foi um final em beleza!!










Seguiram-se as fotos do grupo....



...... e o banho de agua.... fria!!!




O deixar a praia....



.... e embalar as bicicletas.



(Foto: Ricardo Gomes)

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Oh Alfredo!!!! Lages, Lages, Lages :)

Deixo aqui outro relato, o do atleta Loh Ching Soo (Singapure Racing Team) que pedalou por uma causa nobre, a da luta contra o Cancro

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