Aproveitando o dia de férias, decidi "pôr termo" à vontade de voltar ao marco geodésico Cebola, o ponto mais alto da Serra do Açor.
Existe aqui uma pequena história para contar. Há uns 6 anos atrás, depois de ter comprado uma bicicleta (a minha Lolita) e logo me começou a morder o "bichinho" de fazer a pedalar o que normalmente era habito fazer a pé de mochila às costas, isto é.... travessias.
Depois de meia dúzia de voltas e depois de ter ultrapassado pela primeira vez a barreira dos 100 Kms, numa volta com o Vicente e com o Nuno Reis (a que agora fazemos regularmente como "Volta do Mondeguinho") uma travessia não me saía da cabeça, ligar a Cova da Beira a uma terra do coração, a Benfeita. Para isso precisava de companhia e alinharam na aventura os meus amigos Pedro Sousa, Paulo Coelho e Rui Madaleno. Reconhecimentos não havia, gps também não. A solução de navegação passava por imprimir umas cartas topográficas (reduzindo para A4) e seguir viagem. Tinha prometido à malta que teríamos somente uma grande subida e depois estava tudo feito, era sempre a descer...... Mas as contas saíram furadas, culpa minha (dela não me safei). O ponto mais importante de decisão estava na junção (na pontinha) de 3 cartas topográficas (faltava-nos uma). A subida apareceu, no cimo dela apareceu o nevoeiro, descemos, descemos e no fim da subida não estávamos onde eu pensava estar. Tínhamos descido para o vale errado, pois tínhamos subido o monte.... errado. O resultado foi que em vez de um monte, tivemos de subir dois (o segundo debaixo de uma boa chuvada). Tudo acabou bem!! Foi uma grande aventura! Analisando o percurso, deu para perceber que tínhamos subido para o marco Cebola e o que nós queríamos era o São Pedro do Açor. O relato dessa volta esta aqui. Foi o relato que inaugurou este blog.
Dessa volta ficaram varias coisas, uma delas a pena de não ter tido a oportunidade de apreciar as vistas lá de cima. Também ficou a referência, pois aquele monte vê-se de qualquer lado e nós..... já lá fomos. :)
Tudo isto para dizer que aquela pontinha de serra junto ao cruto do pinheiro da foto é a serra que nos alimentou o ego várias vezes.
Decidi lá voltar! Hoje saí de casa às 10:00. Um pouco tarde para quem se propõe a uma volta dessas. Tendo em conta a meteorologia, o tempo que iria gastar, etc decidi fazer o saco com muda de roupa, comida e saco cama. Se isto desse para muito tarde, rumaria ao Fajão e dormiria por lá como na volta que fiz de Loriga a Lousã.
Apesar do céu limpo a previsão dava alguma nebulosidade ao fim do dia em cotas mais altas que se manteriam para o dia seguinte. Daí que o alargar a volta para dois dias poderia não ser muito aliciante pois previa-se andar algum tempo nevoeiro.
No percurso traçado, poderia optar por me aproximar da base da serra por Casegas ou pelo Ourondo. Queria fazer o menos asfalto possível e assim que saí do Tortosendo, entrei em terra no alto da Portela e limitei-me a fazer o sobe e desce de cristas entre o Paúl e o Barco até descer à Ribeira do Ourondo.
A serra da Cebola estava mesmo à minha frente, aliás, na Cova da Beira avista-se de muito sitio. Na primeira paragem para abastecer fui conhecer o Miradouro da Cabecinha. Já por ali tinha passado, mas sempre nos nocturnos com o pessoal da Cova da Beira, resumidamente desconhecia as vistas.
Depois de comer uma fatia de piza do jantar do dia anterior, desci ao Ourondo. Tão bem que soube aquela paragem que da cabeça não saíam as outra duas fatias que tinha deixado em casa.
Passei a ribeira na praia fluvial. Já a conhecia de outra ocasião..... Uma vez a Maratona do Paul (Ribeiras da Estrela), passou por aqui.
Seguiram mais uns pequenos sobes e desces com mais tendência para descer, pois antes de subir a serra iria mesmo lá abaixo, tal como da ultima vez que subi este monte.
Cambões (descobri em casa o nome)
A Serra da Estrela começava a ter as primeiras nuvens e iriam lá estacionar o resto do dia. Pensei muitas vezes que o pior que me podia acontecer era subir ao marco Cebola e apanhar nevoeiro como da ultima vez. Recordo-me que da ultima vez, foi por cerca de uma hora (ou menos) que não passávamos lá sem nevoeiro.
E cada vez mais próximo estavam as imponentes encostas desta serra.....
Na outra aventura por estas bandas, passámos pelo Sobral de São Miguel e trepamos estas encostas pelo Vale da Cerdeira. Desta vez eu queria ir a São Jorge da Beira. Já tantas vezes passei no cruzamento (de cima), já tantas vezes avistei a aldeia de outras encostas mas como nunca lá tinha ido, decidi que era desta.
Atravessei uma bonita ribeira e começava então a subir....
Assim que cheguei ao alcatrão (estrada que liga Sobral de São Miguel, ao Vale de Cerdeira e a São Jorge da Beira) virei à esquerda para São Jorge.
Olhando para cima dava para ver as casas dos mineiros das Minas da Panasqueira.
Olhando para trás avistava a Serra da Gardunha.
Ao chegar a São Jorge da Beira a minha preocupação era encontrar um café e uma fonte. Precisava de beber um sumo, comer alguma coisa e atestar o deposito com agua.
Já diz o proverbio que "Quem tem boca vai a Roma" e eu, lá dei com o meu café. A paragem foi tranquila. Enquanto bebia uma coca-cola bem fresquinha e comia uma sandes que trouxe de casa, houve tempo para dois dedos de conversa com um senhor que se sentou ali à minha beira.
Vinha agora a parte mais potente do dia. Arrecadei entretanto uma lata, pois esta iria certamente saber-me pela vida algures no meio da serra.
Deixei São Jorge da Beira e comecei a subida que duraria aproximadamente 10 Kms. E que 10 Kms.... teria neles, mais de 700 metros de desnível para vencer.
Fui subindo e aos poucos aquilo que já tive de olhar para cima para ver, já conseguia estar abaixo da minha linha de visão.
A minha única referência na subida era uma pequena capela no meio da encosta (Santa Barbara, penso eu). A intersecção do caminho que fiz com os meus companheiros em 2006 e este de hoje era mesmo junto a ela. Parei um pouco....
Apesar de nem estar meio a subida as vistas já eram qualquer coisa de espectacular. O São Pedro do Açor, parecia espreitar atrás de um dos braços deste monte entra os muitos aerogeradores destas serras.
A Cebola estava cada vez mais perto, mas as nuvens aqui para estes lados já iam fazendo algumas cocegas.
O caminho que vem do Vale de Cerdeira.
A barragem de Santa Luzia
Aproximavam-se os metros finais (ainda uns bons metros). O tecto de nuvens estava cada vez mais baixo. Por instantes já o São Pedro do Açor (mais baixo que a Cebola) estava tapado, ao fundo a capela da Srª das Necessidades, do monte mais conhecido como Monte Colcurinho pouco faltava para também ficar entre nuvens.
Estas são as três grandes elevações da Serra do Açor, Cebola (o mais alto), São Pedro do Açor e Srª das Necessidades.
Cheguei!!!!!!!! Não dá para descrever a satisfação. Não dá para descrever as vistas aqui de cima....
Contas feitas aqui levava pouco mais de 40 Kms e já tinha vencido 1700 metros de desnível, desde que saí de casa.
Para ajudar, deixo aqui uma 360º à volta deste monte.
A Coca Cola de reserva foi bebida aqui e a ultima sandes também....
Tinha de fazer contas à vida. O mais fácil seria ir dormir ao Fajão, pois em cerca de 1 hora chegaria lá nas calmas. Eram 16:00.
Tinha aqui um dado novo que não existia há 6 anos. Neste monte tínhamos de um lado o caminho para o Vale de Cerdeira e São Jorge da Beira, e do outro lado tínhamos o caminho para a estrada da Covanca. Passados sei anos, temos agora um novo caminho, rasgado na crista cheio de aerogeradores (18 torres). A direcção do caminho era o ideal (Pedras Lavradas), mas teria saída?? Pensei eu. Decidi então que não iria dormir fora e iria de novo para casa. Tomei o dito caminho consciente que se não desse ligação com as Pedras Lavradas, de alguma forma conseguiria ir ter ao Sobral de São Miguel.
Mais lá de cima, as Minas da Panasqueira
A barragem de Santa Luzia
Talvez o Fajão
Talvez os Cepos
Albufeira da barragem do Alto Ceira
Malhada Chã
Tanto desci, que cedo dei conta que apesar do monte ter um "braço" a ligar a encosta das Pedras Lavradas, caminho.... nem vê-lo.
Locais habitados noutros tempos
Nesta precisa linha de água nasce um conhecido afluente do Rio Mondego, o Rio Ceira.
A descida foi rápida e felizmente havia caminho para o Sobral de São Miguel.
Sobral de São Miguel
A passagem pelo Sobral foi rápida, pois já corria o risco de chegar de noite. A unica paragem foi junto à paragem que deu uma foto engraçadas numa outra volta que passei por aqui com o Coelho, o Mané e com o Joca, uma travessia que fizemos da Guarda para a Benfeita.
O estar curto de tempo, não me impossibilitou de ainda inventar, na tentativa de evitar alcatrão. Enfim...... alguns becos sem saída e este da foto de cima foi um deles.
Em Casegas, o atalho correu bem, pois evitei alcatrão e depois de uma boa subida tinha o Paúl aos meus pés. Faltava a ultima subida...... para juntar os últimos Kms e mais uns metros de subida. Apesar da ressaca dos Kms do dia de ontem, no fim do dia de hoje já estava por tudo, fez-me lembrar alguns dias da Transportugal que começamos "perros" e no fim já vamos de gás a todo lado.
Já cheguei no "lusco fusco". Mas foi uma volta daquelas! Como se diz agora "gosto disto", as fotos e o track ajudam a dar uma ideia do dia que foi.
4 comentários:
Caro Tiago,
Antes de mais quero dizer-lhe que há muito tempo que visito o seu blog. É uma inspiração. Além do mais, para quem nasceu de um lado da Estrela, cresceu do outro lado (tendo-a palmilhado a solo e em grupo muitas vezes – ah que saudades do Vale do Rossim de há muitos anos!) e que na idade adulta passa parte do tempo na Lousã e no Açôr, as paisagens são familiares mas convidam sempre a uma descoberta.
Bom mas o motivo do comentário é que este Agosto andei várias vezes pelo Açôr e há de facto uma passagem do picoto da Cebola para as Pedras Lavradas sem descer a S. Jorge da Beira. A ideia é apanhar o estradão da crista que fica a Sul da Cebola do outro lado do vale (o que vai de S. Pedro do Açôr na direcção da Estrela, fotos 2, 3 e 4).
Assim, quem vai do picoto da Cebola na direcção da Estrela (foto 1, tirada um pouco mais abaixo) pelo estradão dos aerogeradores, quando se chega ao 17º (se não me engano) toma-se uma carreiro à esquerda e, após uns Ss a descer larga-se o carreiro e corta-se de novo à esquerda (eu coloquei lá umas pedras a marcar o caminho) a subir ligeiramente por um carreiro manhoso (nalguns sítios tem mesmo que se levar a bike à mão) pelo meio do mato (é o vale onde nasce o rio Ceira - ver fotos 5 e 6 tiradas a descer) que vai apanhar o estradão que vem de S. Pedro do Açôr. Este leva-nos às Pedras Lavradas.
Abraço,
João L.
Fotos em: https://picasaweb.google.com/115767216724531253369/September192012?authkey=Gv1sRgCObB4t6B2dzfigE
Olá João
Obrigado pela visita e pelas tuas palavras. Leio só agora o teu comentário, pois acabo de chegar precisamente da Lousã. Há coincidências engraçadas.
O caminho que tu descreves eu bem vi o seu inicio, mas pareceu-me que acabava uns metros à frente. Fiz as contas ao que parecia que ainda tinha que fazer com a bicicleta às costas e achei demasiado arriscado. Iria demorar tempo demais e não tinha a certeza se teria sucesso com a saída. Ainda bem que com a tua preciosa informação, sei que é possível fazer essa ligação. Logo lá volto, pois é um caminho que pode ser muito útil nas investidas para aquelas bandas.
Abraço e obrigado
Tiago Lages
Tiago,
Pois, o caminho não é óbvio e, às vezes, duvidamos se é mesmo caminho. E fazendo a ligação a subir é preciso andar com a bike às costas ou à mão. Mas no total acho que em meia-hora se chega ao estradão que vem de S. Pedro do Açôr (mesmo por cima de Châs de Égua).
Já agora, a ida à Lousã foi para o Skyroad?
É que se foi andámos a pedalar no mesmo pelotão !
Abraço
João
Foi isso mesmo, como o caminho não era óbvio não quis arriscar antes que a noite me apanhasse lá. Mas se em meia hora dá para chegar ao caminho da outra crista é muito fixe. Como já tinha dito é uma informação preciosa.
A ida à Lousã foi precisamente para o Skyroad, mas desta vez não pedalei. Fui a fechar o percurso do granfondo, mas de carro.
Abraço
Tiago Lages
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