domingo, maio 13, 2012

10ª Transportugal Garmin Race


Mais uma excelente e espectacular Transportugal Garmin. A 10ª edição contou com gente de todos os cantos do mundo, Japão, México, Brasil, Holanda, Estados Unidos da América, Bélgica, Nova Zelândia, Noruega, Itália, Reino Unido, uma boa representação do Canadá, outra da África do Sul e como não podia deixar de ser... de Portugal.


Com fotografias dos fotógrafos oficiais da prova, Agnelo Quelhas e Pedro Cardoso vou tentar dar uma ideia do que foi uma semana 5 estrelas. Uma competição onde reina um ambiente único, uma sintonia perfeita entra participantes, organização e os mais bonitos locais do nosso país.

Este será o rescaldo da minha tarefa nesta equipa 5 estrelas que foi a de "vassourar" a prova de Bragança a Sagres

O dias zero para os participantes é preenchido pela montagens das bicicletas, briefing, testes ao material e uma voltinha nos arredores de Bragança.O meu durante a manhã ainda foi a trabalhar. De tarde juntamente com o Agnelo, rumamos da Beira Baixa até Trás-os-Montes e Alto Douro, mais propriamente até Bragança City.



À nossa chegada já o cenário não era este!!
A malta já rolava em cima das bicicletas. Os testes, os ajustes, os acertos já estavam feitos. O primeiro dia de prova estava quase aí.
À semelhança do ano passado, o dia estava de chuva e tal como em 2011 ainda houve quem tivesse de usar o impermeável na volta de teste.





Na minha bicicleta a única novidade era o suporte emprestado pelo prof. Castro que faz muita diferença do suporte original do meu etrex. Muito mais estável, o GPS nunca se desligou (como por vezes acontece em terrenos mais acidentados) e nunca caiu e ficou para trás (como já aconteceu duas ou três vezes). Uma ajuda preciosa, pois é menos uma preocupação.


Dia 1: Bragança - Freixo de Espada à Cinta


O sábado amanheceu muito cinzento e frio. Os impermeáveis, corta vento e outros "adereços" iam fazer parte do dia de toda a gente. O primeiro grupo saiu uma hora e cinco mais cedo que o grupo dos participantes sem qualquer handicap.





Com normalidade, os olhos viravam-se muito para o Vitor Gamito, não só pelo seu recheado currículo de atleta como também pela preparação que muita gente (incluindo eu) teve oportunidade de acompanhar através do facebook. A par deste, participante de luxo estavam outros conhecidos que tinham certamente uma palavra dizer, falo do Henry Hayes (repetente da prova com os seus dois irmãos) que fez 8º da geral na edição de 2011, a Kate Aardal que no ano passado fez 4º mesmo quando logo no primeiro dia tinha sido mordida por um cão, o Rui Anjos, o João Mesquita com bons resultados da ultima edição e com muita expectativa minha o Marco Macedo, que conheço a raça há muito tempo e que apesar dos azares destes últimos tempos, com quedas e ossos partidos estava ali para dar cartas. 

E quem tem vindo a acompanhar a prova nas ultimas edições, sabe que vai sempre aparecer alguém mais "desconhecido" no nosso meio e que no fim do primeiro dia de prova se torna mais mediático. 

Olhando à minha volta para tentar perceber a pinta de cada um, é sempre uma incógnita sobre quem será o "meu companheiro do dia". Uma coisa aprendi do ano passado, a malta do "cabelo grisalho" e companhia só os iria ver à hora de jantar. Não digo isto pelo handicap, mas sim por é sempre malta com muita rodagem e muitos kms nas pernas. E não me enganei.....

Chega-se as 9:00 e parte o ultimo grupo e eu arranco com eles. Estava dada a partida para a Transportugal e estavam todos os participantes no terreno.


Cedo fiquei sozinho, pois ainda em alcatrão tive ordem para parar e esperar pois um atleta poderia ter partido atrasado (depois de mim). Não se veio a verificar, o rapaz tinha conseguido partir a tempo. Sem grandes pressas, fui andando. Sabia que o mais provável era apanhar alguém, mas que se entretanto depois da primeira subida não tivesse companhia, eu teria que forçosamente ir a procura do ultimo. 







De Bragança a Gimonde fui tudo muito rápido e a subida começava logo aí. A minha primeira companhia foi o mexicano Fidel Chapa, mas quilómetros depois o grupo aumentou com outro mexicano, o Marco Gomez. 










Já na companhia destes dois, chegámos à fronteira com Espanha, o bonito Rio Maçãs que acompanhamos enquanto rio fronteiriço e mais tarde como rio português. Passarmos por Paradinha onde no primeiro CP estava a Marta e a Ana e mais tarde no segundo o Rui e a Maria (em Caçarelhos) que fizeram questão de registar o momento da nossa passagem, o mais aguardado por qualquer CP para poderem desmantelar a barraca e ir embora.



O nosso ritmo não era o mais rápido, o tempo ia passando e nós lá íamos progredindo. Esta malta não estava propriamente cansada, aliás notava-se bem que morava ali "cavalagem", mas para primeiro dia estava-se a comprometer a passagem no CP de Sendim. Já no ano passado ali deixei a minha companhia tendo de continuar sozinho o resto da etapa. Mas este ano deu para passar em Sendim a tempo.





O céu cinzento e o frio dava lugar ao sol de trovoada bem quente e a vestimenta do inicio do dia já tinha sido substituída. 


Em Sendim após a passagem pelos 3 CP do dia, os meus compañeros mexicanos, fizeram uma paragem no supermercado para abastecer. O nosso aspecto, sujo e cheio de lama contrastava à frente da igreja com os convidados do casamento que estava para começar.


De Sendim à Bemposta é uma ligação rápida. No ano passado já ia sozinho por esta altura, mas este ano levava duas companhias. Passámos pela bonita calçada romana à saída da Bemposta e rumámos na direcção de Tó. Se íamos atrasados, a paragem de 20 minutos em Sendim ainda nos atrasou mais e em Tó recebo indicações do António Malvar para ficarmos os três em Tó, pois estávamos com muito atraso para os últimos e estes já não tinham possibilidade de chegar a tempo ao próximo CP. 








O grande responsável por este grande evento chamado Transportugal, António Malvar, este ano faria parte do Staff de maneira diferente. O controlo da prova seria feito à distancia. A indicação para recolher os mexicanos foi cumprida pelo Raul e pelo Pedro e para eu não ficar tão longe dos novos últimos deram-me boleia até ao apeadeiro de Bruçó, pois o meu atraso era considerável. Mesmo assim com este empurram de 15 Kms, o Fael que estava junto ao CP informou que eu ainda estava a cerca de meia hora da cauda da corrida. Comi e bebi durante o transbordo e fiz-me ao caminho....


O terreno estava muito pesado o que não permitia grandes ritmos, mas estava assim para todos.


"Apanhei" novamente a cauda da corrida na subida para Lagoaça. O simpático casal brasileiro Rodrigo e Patricia Alfaia estavam numa paragem para abastecimento, que eu (juntamente com a chuva) vim interromper. 

Já foi na companhia deles que esta paisagem lindíssima nos apareceu à frente. O Rio Douro, esta fronteira natural entre Portugal e Espanha, a aldeia de Mazouco valem a pena ser visitadas noutra altura do ano com mais tempo. Mas não nego que estas nuvens, estas cores lhe dão um toque especial.





A distância prevista estava ultrapassada e durante os últimos quilómetros Freixo de Espada à Cinta tardava em aparecer. Quem já vem nas ultimas e não conhece a zona, desespera sempre um bocado, pois de onde nós vimos, Freixo fica bem escondido. Mas, quando damos conta.... estamos lá. Cruzamos o arco de meta eram 20:15, quinze minutos antes do fecho.



A chegada foi junto ao pavilhão municipal e toda a logística foi ali nos arredores, massagens, jantar e as dormidas foram distribuídas pela vila e pela Congida a uns quilómetros de Freixo, mas um local lindíssimo à beira do Rio Douro.




O video da primeira etapa:


Dia 2: Freixo de Espada à Cinta - Guarda



Acordei na Congida bem junto ao Rio Douro e com vista para o outra margem, Espanha....


Depois da "sovata" de sábado, com sobe e desce, terreno pesado, etc. o domingo é bem mais meigo, com menos quilómetros e menos desnível a vencer. A maior dificuldade do dia resumia-se a sair do Rio Douro até Castelo Rodrigo, mas sempre com bom piso o que ajuda e muito. Comparada com esta, tudo o resto era bem mais simples.  



Dada a longa etapa do primeiro dia, as partida de domingo foram a uma hora mais amiga. O ultimo grupo arrancou às 10:00.

Esta etapa "marca" a entrada nos "meus" quintais. Estas paragens são destinos regulares da malta da Guarda tanto para andar a pé como para pedalar. As investidas para estes lados estão a maioria das vezes relacionadas com amendoeiras em flor. Só pelo Clube de Montanhismo da Guarda, já temos feitos uns fins de semana bem giros entre a Guarda e estas terras, no contexto das amendoeiras (2010, 2011, 2012)

De Freixo Espada à Cinta até Poiares, foi quase sempre por asfalto, a única excepção é mesmo aquela agulha no gráfico da altimetria que é feita em terra. Assim que passamos Poiares, descemos na direcção das calçadas bem conhecidas desta região Alpajares e Santa Ana, por onde nós descemos e subimos depois de passar a Ribeira do Mosteiro.






O Vitor Gamito, vestiu a amarela de líder para não a voltar a largar.




Esta é uma das bonitas paisagens do segundo dia de prova e sem duvida a mais técnica. A calçada é sempre um pouco traiçoeira, mas não falta quem a faça em cima da bicicleta na maioria dos troços. Degrau atrás de degrau, chega-se à ponte, a única forma de ultrapassar a Ribeira do Mosteiro quem passa por aqui.






Acaba-se a calçada e entramos em alcatrão até Barca de Alva, passamos o Rio Douro, deixávamos Trás-os-Montes e Alto Douro e entrávamos na Beira Alta pelo distrito da Guarda. Iniciávamos aqui a subida do dia de aproximadamente 20 Kms, desde o Rio Douro até à bonita aldeia histórica de Castelo Rodrigo.
A subida foi penosa para mim e para o meu companheiro de subida, o joelho do mexicano Marco Gomez atraiçoava-o a toda a hora com dores, tendo muitas vezes de o acompanhar a pé. Pelo caminho ainda encontrei o Carlos Gonçalves e mais malta amiga de Figueira de Castelo Rodrigo em mais uma voltinha boa de domingo. A subida foi tão demorada que quando chegámos ao CP de Castelo Rodrigo já o CP tinha fechado à quase uma hora e os últimos a lá passar já nos levavam hora e meia de avanço. O Marco ficou ali e foi recolhido pelo Fael e eu depois de tanta sola gastar, fui a "correr atrás dos estragos" na esperança de não chegar à Guarda sozinho.





Entre o CP2B (Castelo Rodrigo) e o CP2C (Almeida) fui aumentando o ritmo sempre a pensar que o dia seguinte era o dia da Serra da Estrela. 
Assim que cheguei a Almeida já tinha tudo desertado, pois já não encontrei ninguém no CP, o caminho estava "varrido" só tinha mesmo que continuar. O ritmo já ia mais acelerado pois entre estes dois CP o percurso é bastante rolante.





Desci ao Rio Côa onde fiz a minha paragem para comer uma das sandochas (que todos os dias me preparavam com muito carinho). Na descida para a ponte, deu para ver a diferença do meu suporte do GPS, por aquele que trazia, pois aqui normalmente desliga-se na descida com tanto pedragulho. Em toda a semana o GPS não se desligou uma única vez.



À semelhança do ano passado, tinha na passagem pelo Freixo a família (pai, mãe, irmã, tios e tias, primos e primas) a ver passar a "caravana" de bicicletas. Sendo este domingo o dia da mãe ainda tive a oportunidade e sorte de poder dar um beijo à minha mãe. A paragem foi mais curta que o ano passado, pois este ano passei sozinho a correr atrás da companhia. 


Desci à Ribeira das Cabras, subi e Pinzio e finalmente apanho gente. O casal Rodrigo e Patrícia Alfaia estavam a chegar ao CP. À hora que ali estávamos, adivinhava-se uma corrida contra o tempo para chegar a Guarda antes do fecho de meta. O percurso não era difícil, mas nestes últimos 20 Kms ainda tínhamos de ir picar o ponto ao Jarmelo. 


Estes últimos Kms foram uma corrida contra o cronometro, com o António Malvar a ligar a informar as alterações do fecho da meta e o casal a pedalar com mais ritmo rumo à cidade mais alta. Ao mesmo tempo que eu dava essa informação, tentava dar alguma motivação antecipando-lhe o que vinha a seguir. Nem mesmo a Inês de Castro e os carrascos eles tiveram oportunidade de ver.


Foi mesmo por um triz.....


Chegamos à meta em cima do tempo, foi um final engraçado!! Valeu a pena o esforço dos simpáticos Alfaia.



O video.............


Dia 3: Guarda - Unhais da Serra


O dia na cidade mais alta amanheceu muito cinzento, com muito nevoeiro e com ameaça de chuva durante o dia. Para melhor me precaver da passagem, domingo à noite liguei ao homem que melhor sabe dizer como iria estar o tempo para este dia, pois eu, já adivinhava uma passagem lenta pela minha Serra da Estrela. A minha maior preocupação era a passagem pela Santinha, pois das ultimas vezes que lá passei neste Inverno, levei tareia e como aprendi do parapente ali ao lado, quando a Santinha tem nevoeiro..... é melhor "fazer atenção". 

Bateu tudo certinho como o Vítor Baía tinha dito: chuva, vento e temperaturas na casa dos 6, 7 graus.




E na segunda feira, antes da partida ainda deu para dois dedos de conversa. Alem dos meus pais e da minha tia, apareceram junto ao hotel para ver a malta sair o Koelhone e o professor Castro.


A saída da Guarda era "macaca", com a subida ao Alvendre pelo caminho mais "partido". Queixem-se ao Rui Sousa! Até ao Alvendre ia novamente com o Rodrigo Alfaia, mas ali encontrei o nipónico Toru Watanabe muito desanimado. 

Subimos juntos ao Barrocal e juntos descemos a calçada romana do Tintinolho. Deliciem-se com as fotografias deste miradouro sobre o vale do Mondego....








Com um pouco de alcatrão à mistura, passamos na Aldeia Viçosa e estivemos às portas da Mizarela onde se iniciava a primeira subida do dia. O primeiro CP do dia era mesmo no inicio da subida, estava na esperança que o Toru quisesse ficar ali, mas este homem tem uma capacidade de sofrimento incrível. Durante a morosa e lenta subida que fizemos deu para perceber que tinha passado mal a noite, isto é, estava doente.

Chegamos a Videmonte (com alguma sola do sapato gasta). A chuva e o vento fizeram-nos companhia grande parte do percurso, o Toru estava mal, cansado, abatido e não conseguiu comeu nada durante a subida. Estava convencido que teria que abortar a etapa e tentar recuperar para os dias seguintes. 

Entrei com ele no Café Santiago (o meu habitual por estas bandas). Sabia que encontraria a lareira acesa e o ambiente bom para o Toru esperar por recolha. Dentro do café não há rede! Demorei 5 min para vir à rua telefonar para o António, a fim de combinar a estratégia para a recolha. Tal era o cansaço que quando entrei no café já o Toru estava a dormir sentado, quase a tombar da cadeira e com uma serie de gente da terra a olhar o japonês que ali apareceu.


Entretanto chegou o Fael para nos recolher. Os "novos" últimos estavam longe, e já tínhamos a informação de terem passado o CP colocado depois da Portela de Folgosinho. Deixou-me então na crista da Santinha para eu fazer em sentido contrário o percurso, apanhar a cauda da corrida, o casal Alfaia e regressar com eles.








Apanhei o casal Alfaia entre o Malhão e a Santinha e juntei-me a eles. Mas o dia já ia longo para o que faltava fazer. Pouco depois de estar com eles, recebo a indicação do António para encontrar um local abrigado pois eles iram ser recolhidos. A dona Judite tinha o estaminé fechado e parei com eles no cruzamento do Vale do Rossim por estar mais abrigado do vento.


Ali se fez um abastecimento e como se estava a arrefecer, fomos pedalando pelo alcatrão até à Penhas Douradas onde foram recolhidos. Como faltava "varrer" uma parte do percurso, entrei no trilho, rumo à Pousada de São Lourenço e Cruz das Jogadas, onde ainda tive de recolher uma placa de CP (parecia que levava as asas Buzz Lightyear) na descida para Manteigas. Não sei se foi das asas, mas deu para voar...... :)

Restava a subida para os Piornos, pelo "miradouro" mais comprido e mais bonito do vale glaciar do Rio Zêzere. Com os atrasos do dia eu ainda estava muito atrás do fim da corrida. O Raul apanhou-me na chegada a Manteigas e subi uns kms à boleia até me deixar novamente em terra com o Paulo Moura. Subimos os Piornos e faltava a parte final que apesar de ser sempre a descer, dadas as condições meteorológicas,  também dava para sofrer um bocado. Na descida o parceiro deixou de ser o Paulo, pois apanhamos o Teo e o Andrew, dois amigos sul africanos que com o frio que estavam a passar, iam a gastar muito travão para não arrefecer muito mais.


E eis que chegamos a Unhais da Serra, esta bela localidade. Rapidamente o frio deu lugar ao conforto do H2otel. 



Depois do banho, seguiu-se o jantar. Para mim o melhor jantar de todos, não só pelo sitio, mas pelas companhias que vieram ao meu encontro. :)


Mas a Transportugal, não adormece cedo. Enquanto uns já descansam para o dia seguinte outros têm uma longa noite pela frente....



Dia 4: Unhais da Serra - Monfortinho


O quarto dia de prova era mais meigo. As subidas (nada comparadas com as dos dias anteriores) resumiam-se à subida das Taliscas para o marco da Pedra Alta e a subida a Monsanto. O dia também estava mais soft, sem chuva e sem frio apesar de algumas nuvens durante a manhã.





Saída de Unhais da Serra às 9:00. Com o Miguel Espadeiro e com o João Pereira, fiz a subida das Taliscas.  Esta zona é bem conhecida por outro participante da Transportugal, Marco Macedo, não estivesse ele a passar quase à porta de casa.
O inicio parecia decorrer sem problemas, mas enquanto a subida foi efectuada na companhia destes amigos, a descida foi com o Marco Gomez que apanhamos quase no marco geodésico. 


Apesar de estar em prova e de ter usado o dia anterior para descansar, o joelho do Marco Gomez não estava nas melhores condições. Isto condicionava um pouco o andamento. Mesmo assim passamos à vontade no primeiro CP na Ponte da Ribeira da Meimoa e o segundo CP um pouco antes de Águas, apesar deste ultimo já termos passado quase a fechar. Logo a seguir ao primeiro CP, o Marco decidiu para e telefonar à organização, as dores não o deixavam pedalar e tinha decidido abandonar a prova e regressar ao Mexico. Faria somente este dia de etapa. 

Fomos progredido aos poucos. Foi um passeio bastante relaxado, com muita conversa pelo caminho, aos poucos eu ficava a conhecer um pouco de Monterrey (Mexico) e o Marco ficava a conhecer um pouco de Portugal. De tal forma que o principal objectivo do dia para ele seria visitar Monsanto. Fazer esta etapa sem conhecer esta aldeia seria frustrante.




Aos poucos chegávamos perto de Monsanto, mas mais uma vez bastante atrasados. O ultimo CP antes do final da etapa era depois de Monsanto em Lagar de Junho e quando nós estávamos para entrar na calçada romana só faltávamos nós passar no CP e este estava já fechado. Como o Marco estava com vontade de conhecer a aldeia conhecida por aldeia mais portuguesa de Portugal, ele foi pela calçada e seria recolhido pelo Fael. Eu fui por estrada pelo Carroqueiro, mais uma vez atrás do casal brasileiro que tinham sido os últimos a passar no CP.














Novamente sozinho, desci à Srª da Azenha, e circulei por caminhos já percorridos noutras ocasiões. Apanhei os Alfaia no local mais fácil de identificar na zona e que trazia na memória do ano passado. 



O nome do local é Pedras Ninhas.



E na companhia dos Alfaia, chego ao Hotel Astória nas Termas de Monfortinho.





E o que sabe tão bem depois de um dia de pedal??? São estas batatinhas que estão na fotografia de baixo, juntamente com uma saladinha de tomate e umas fatias de presunto. O manjar que a simpática equipa da Helena, Lina e Mila preparava todos os dias era do melhor. 



Fui tratar de mim, instalei-me no meu quarto, lavei a minha roupa e quando a vou estender, dou com este espectáculo..... (foto abaixo)
Toda a gente trata do mesmo.... só falta mesmo secar.


Os rituais continuavam.....
Depois de bem lavadas, a malta da mecânica prepara as máquinas para o dia seguinte.....


A excelente equipa de massagistas preparava os BTTistas para o dia seguinte.


No ano passado não me "sujeitei" a nenhum tratamento destes, mas de uma coisa não me esqueci, foi da malta a agradecer no final ao excelente trabalho da equipa de massagens. Na Guarda levei o tratamento da Maria e no dia seguinte estava novo :) Como o 5º dia de prova iria ter mais de 140 Kms e como me lembrava do ano passado o quanto era rápida a etapa, fui mais uma vez à massagem depois de jantar. Adormeci que nem um santo. 





Dia 5: Monfortinho - Castelo de Vide


O dia que saímos de Monfortinho, já se adivinhava bem quente. A primeira metade do percurso era bastante rápida, mas nunca pensei que fosse tão rápida assim.



Às 9:00 em ponto saí com o ultimo grupo. Os arredores de Monfortinho ainda fazem parte dos "quintais" habituais. Passámos em Torre e Alcafozes que já receberam provas de Ori-BTT da Federação Portuguesa de Orientação e deu para passar noutros estradões já percorridos nos Trilhos da Raia, Maratona da Idanha-a-Nova, etc.








Depois de Alcafozes e Srª do Almortão, fizemos algum alcatrão até ao Ladoeiro.





A minha companhia foi sempre o Rodrigo Alfaia, ainda sem a Patrícia pois ela por beneficiar de um handicap, saía quase uma hora mas cedo. O Rodrigo habitualmente apanhava-a com 40 ou 50 Kms, mas este dia estava mais rápido que o normal. Para dar uma ideia, com 75 Kms percorridos, estávamos à beira do Rio Ponsul, perto de Malpica do Tejo e nós (a cauda da corrida) estávamos com uma média de 21 Kms/h. Lá à frente, nem dá para imaginar o andamento.
Ainda antes de Lentiscais, apanhamos o mexicano Fidel novamente com queixas do joelho. O Rodrigo fugiu e eu acompanhei o Fidel (por pouco tempo).
O Fidel ficou em Lentiscais com o Fael, a etapa dele terminava ali.
Em Alfrivida no terceiro controle do dia estava de novo com o Rodrigo. Valeu a paragem que fez para beber duas coca-colas.
Seguimos para Vila Velha de Rodão....



Atravessámos o Tejo, deixámos a Beira Baixa e entrámos no Alentejo. Após a paragem na fonte à beira da estrada (já em solo alentejano), fizemos um pouco de alcatrão e logo entrámos num trilho que eu acho lindíssimo a acompanhar a margem do rio.









Continuámos Tejo a fora, até a começarem as pequenas subidas e depois de Salavessa a rampa do dia, aquela que quase toda a gente faz à mão. Enquanto eu e o Rodrigo descíamos, já avistávamos uma pequena procissão de caminhantes com a bicicleta "às costas". Só no cimo da subida, já com mais de 110 Kms percorridos, o Rodrigo encontrou a Patrícia e seguimos os três o caminho. Grande Patrícia!


Esta ultima parte do dia era de subida e terminava com uma boa picada. À medida que nos aproximávamos do final, olhávamos a encosta. O que sobressaía? Nada mais nada menos que o castelo de  Marvão. Nada mais natural pensar que o final seria lá, e ainda faltavam uns Kms....
Deixei esse suspense pairar e só mesmo quase a chegar é que apontei para o "disfarçado" castelo de Castelo de Vide e disse, "é ali que vamos terminar". Notou-se o alivio, mas de qualquer maneira, a subida pela calçada não ia ser meiga.






A subida à meta, na zona mais alta de Castelo de Vide, fiz com a companhia do Nicholas Fee, que trazia a suspensão traseira feita num caco. Foi muito duro para ele estes últimos Kms, pois ficava sem posição adequada para pedalar. Os Alfaia, só os voltei a ver no hotel.


À noite o meu amigo Manuel Pragana, deu um saltinho de Portalegre a Castelo de Vide e ainda deu para tomar um cafezinho, como se estivéssemos na cidade mais alta. Como o dia 6 ia ser o mais longo, com 165 Kms aproveitei uma vez mais a massagem. À entrada do local onde estavam a funcionar deu vontade de rir, às 22:00 estava malta a ter massagem e a primeira do dia tinha sido dada ao Vitor, às 15:00. Sete horas de diferença, mas também 7 horas que esta excelente equipa de massagistas esteve a dar no duro.



Dia 6: Castelo de Vide - Monsaraz


O dia 6 desta prova tem característica muito próprias. Em primeiro lugar por ser a etapa mais longa com 165 Kms, outra  por ter os primeiros Kms muito técnicos e muito lentos (quando o dia é tão longo) e para ajudar à festa tem uma infinidade de portões de gado para abrir e fechar. No ano passado, neste etapa abrimos e fechamos 36 portões. Este ano foram menos, mas foram muitos na mesma.





A saída foi meia hora mais cedo, às 8:30 estávamos a caminho de Monsaraz. Comecei com o Rodrigo, mas cedo fiquei sozinho. Pois o joelho do Rodrigo pregou-lhe uma partida. Lentamente fomos progredindo nas subidas e descidas de calçada que faziam chocalhar o esqueleto todo. Mas antes de Alegrete, decidiu parar para ser recolhido.















Os primeiros Kms deste dia eram lentos de fazer, tendo em conta o dia que se adivinha muito longo. Ao primeiro CP, depois de Alegrete, já tinham ficado dois participantes pelo caminho um com problemas técnicos e outro físicos. A partir daqui seria tudo mais rápido, tirando a parte de abrir e fechar os portões.




Depois do primeiro CP, apanhei o Fidel. Este dia confesso que enquanto andei com ele deu para me "descalibrar" o andamento, tal era a mudança repentina de ritmo. Ora se subia a pé, subidas simples de alcatrão ora se pedalava em força a bom ritmo. Ritmo tal que por vezes eu até o deixava ir, pois mais cedo ou mais tarde estava outra vez a pé, o problema era mesmo quando distraído se enganava no percurso e nem com berros voltava atrás pois ...... ia com phones nos ouvidos.






Atrasamos-nos muito, pois as zonas a pé foram aumentando e a agua também foi acabando. Ao terceiro CP deste dia já a malta tinha desmobilizado. Além de só faltarmos passar nós, o dia foi marcado pelo acidente do João Pereira. 
Entretanto fizemos um pequeno desvio até Calçadinha, o único local da redondeza onde poderíamos comprar bebidas frescas.
Chegou entretanto o Fael, que nos recolheu e deixou-me a mim um pouco à frente em Vila Boim. Os últimos Kms do dia foram com Nicholas Fee e com o Toru. 












Que dia de calor este. Eu e o Toru, chegamos às 20:00, com 11:30 de bicicleta.....




E enquanto uns descansam, outros tinham mais uma noite longa...........




O video.....



Dia 7: Monsaraz - Albernoa


Mais um dia, mais 145 Kms.........



O meu inicio de dia foi atribulado. Os rolamentos da minha roda traseira, que apesar de novos começaram a dar sinais de estarem a dar as ultimas nas ultimas etapas, deram o berro de vez na etapa de ontem, a 6ª. Mas o Zé Carlos emprestou-me uma roda com pneu e tudo que na noite anterior ainda lhe montei a minha cassete. 
Na saída de Monsaraz, na conversa com o Rui, deparo-me com um buraco no pneu e a câmara de ar quase a sair. Tinha de o mudar rapidamente pois estava tudo prestes a partir.
O ultimo grupo (o meu) lá partiu e eu fiquei a montar outro pneu.



Quando saí, já não via ninguém perto. Recordo-me do ano passado este inicio ser bastante rápido que fiz com o João Pereira e o Nuno Fernandes. Sozinho, neste alcatrão das margens do Alqueva, não se anda tão rápido. Entretanto passa o Pedro Cardoso, que me deu uma pequena boleia até a entrada em terra. 



Um pouco depois de Mourão já tinha companhia, o Stuart Brew, um neozelandês residente em Inglaterra. Encontrámos um ritmo certo e rapidamente encontramos os Alfaia e o Toru, na passagem do Rio Ardila.











Depois da passagem do rio, fizemos os 5 alguns Kms juntos. Depois o "Stu" deixou-nos e acelerou o ritmo. 



Em Pias quase ficavam mais dois, pois a Patrícia não estava com o feeling de outros dias e queria desistir. Felizmente não foi difícil de a convencer a vir. Já levávamos 75 Kms e já tínhamos mais de metade do dia percorridos. Mas não seria fácil, pois estávamos uma vez mais num dia muito quente, na zona que habitualmente é a que bate records de temperatura. 




Os Alfaia, deixaram-me com o Toru e seguimos ao ritmo dele. Passamos o Rio Guadiana e começamos a afastar-nos do seu percurso. Mas na Cabeça Gorda voltamos a encontrar-nos por desistência. Desta vez não estávamos perto para convencer do contrário. 












Um pouco antes das 19:00, também nós estávamos a chegar.





O Video....



Dia 8: Albernoa - Monchique


O penúltimo dia é um dia "traiçoeiro". São "só" mais 135 Kms, como já todos andam habituados, mas os últimos 30 são os piores. A entrada no Algarve é pelas portas da Serra de Monchique e não só.



Tal como no ano passado, contei com a companhia do Alfredo Azevedo os últimos dois dias. O Alfredo, já conhece a prova de trás para a frente de outras edições (como vassoura e como participante).










A primeira parte do dia é uma zona bastante bonita, verde e florida do nosso Baixo Alentejo.









O dia ia aquecendo. Juntamente comigo e com o Alfredo, tínhamos o Toru. A paragens mais demorada do dia foi feita em Santa Clara, já com mais de 80 Kms percorridos. Precisávamos de atestar os bidons com agua fresca para os kms seguintes.






Ao Kms 105 e com uma temperatura a passar os 35 graus, aparece a primeira rampa, pelo meio dos eucaliptos. O Toru fez a subida já um pouco debilitado e muito cansado. O Alfredo de tanto esperar por nós, seguiu viagem e só o voltei a ver no fim do dia.


Após este primeira agulha da entrada no Algarve, descemos à Ribeira da Penha Negra. No vale por onde corre esta ribeira, não corre uma única aragem. A próxima subida, apesar de ser em asfalto ante-vinha-se dura, até porque a agua era pouca e era quente.


O Toru ia completamente com os bidons vazios e com uma progressão muito lenta e sofredora. Foi nesta subida que vi a capacidade de sofrimento deste amigo do outro lado do mundo. Confesso que houve uma altura que até eu já ia com medo de lhe acontecer alguma coisa. Esse receio levou-me a oferecer-lhe água, coisa que recusou de imediato, dizendo "at the finish line". A passagem no ultimo CP foi mesmo na queima, mas após o CP a subida aliviava um pouco, mas não terminava. 


À beira da estrad, apanhámos um tasco. Bebemos os dois uma pepsi, mas o tasco já estava tão desfalcado que quando o Toru pediu a segunda, já não havia mais nada. De qualquer maneira, já ficou com outro aspecto. A caminho das Caldas de Monchique, quase subíamos à Foia, a subida engana....
O dia terminou neste local magnifico (foto abaixo), onde o pic-nic estava num local privilegiado....




Video da etapa 8: aqui.

Dia 9: Monchique - Sagres


O ultimo dia de prova.....
O dia mais curto de todos (99 Kms).


A partida às 10:00 num dia quente, fez com que toda a gente aguardasse pela hora de partida enfiado nas garagens do hotel.




O dia começou rápido, tendo eu e o Alfredo que manter um bom ritmo para estarmos juntos dos últimos tal era o entusiasmo.


Quem quase ficava pelo caminho na ultima etapa da prova foi o "Stu". Um problema com uma roda no dia anterior, fez com que tivesse de montar câmara de ar, mas a deformação do aro era tanta que o pneu saltava do sitio. Numa das paragens rebentou uma câmara de ar. Remediada a situação, onde teve a sorte de passar por um grupo de estradistas que lhe cederam duas botijas de CO2 seguimos viagem, mas ele acelerou o ritmo. No primeiro CP, tivemos de fazer um compasso de espera pois tínhamos a informação que estava um para trás. Assim que a duvida ficou desfeita, a paragem, a juntar ao ritmo que o Stu imprimiu, ficamos muito para trás. 




No segundo CP, a informação era que estávamos muito atrasados. Não me conformei muito com a ideia, pois não tinha ainda acabado sozinho. Fomos andando à procura dos últimos.





Passamos a Carrapateira sem conseguir ver alguém. Tínhamos mesmo de dar ao "chinelo". Ao subir a rampa para o terceiro CP, decidi dar o tudo ou nada, ou berrava e acabávamos sozinhos ou acabávamos sozinhos na mesma.





Assim, os últimos 35 Kms foram sempre a andar bem. Não comparem com o andamento da frente, pois esses quando eu chego ao hotel, já eles tomaram banho, comeram, tiveram massagem e já até dormiram um bocado.  Mas o andamento foi bom. O Alfredo decidiu ir mais calmo e eu apanhei o Toru e o Stu, quase com 80 Kms. Quando os vi, fiquei logo mais animado e até chegar ao pé deles ia como um cão de caça atrás de uma lebre. Correu bem! Valeu de certeza a "tareia" do Rui Queixadas no dia anterior. 





Foi mesmo nesta subida de alcatrão que cheguei novamente à cauda da corrida.






Na companhia do Stuart, passei a meta. Estava encerrada mais uma Transportugal!












O convívio seguiu-se depois da linha de meta, mar adentro....
O esforço, as dificuldades ultrapassadas, as simpatias e os carinhos, toda a empatia entre participantes e organização revêm-se nas imagens do resto do dia.







A excelente equipa de massagistas.











A partir daqui já o dia começa a ficar mais triste e a nostalgia a bater à porta. O dia seguinte iria ser bem diferente do que tinham sido até aqui os últimos 9.



O ritual do empacotamento das bicicletas.....


O video....



O jantar de encerramento.....


A entrega de prémios..... já na companhia do mentor que tornou tudo isto possível, António Malvar.













O grande vencedor da prova, sempre em forma Vitor Gamito.


Mais uma semana em cheio. Mais uma Transportugal, a prova de BTT mais espectacular que se realiza no país e uma das mais espectaculares do mundo. As palavras, não são nossas! Pertencem aos participantes, muitos deles já experimentados de outras grandes provas internacionais.
Uma prova 5 estrela de que tenho orgulho fazer parte.

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